"Massa Crítica" invade ruas e pede respeito pelas bicicletas

"Final de tarde de sexta-feira, hora de ponta em pleno centro de Lisboa. Subitamente, no Marquês de Pombal, mais de 50 pessoas montadas em bicicletas invadem a rua. Dão três voltas à rotunda, o ritmo lento, as campainhas a fazer "drin drin", os carros obrigados a abrandar o andamento, o povo espantado a olhar. Mas o que é isto? Uma prova de ciclismo? Nada disso.

"Nós não andamos aqui a brincar aos ciclistas", esclarece João Branco, 27 anos, engenheiro aeroespacial. "Este é o nosso veículo para ir trabalhar, para ir às compras, para fazer as nossas vidas", explica. E sublinha: "É um veículo que tem dignidade e tem que ser respeitado".

Não é, repita-se, uma prova de ciclismo: isto é a malta nas bicicletas a ocupar a rua para que a cidade pare e veja que existem alternativas aos popós que saturam a metrópole e amiúde tornam o ar irrespirável. O evento, a manifestação, a concentração, enfim, o que lhe queiram chamar, tem um nome: ""Massa Crítica"". E acontece em várias cidades do mundo a cada última sexta-feira do mês. O JN também pedala neste serpentear pelas artérias da capital.

"A bicicleta voa no trânsito de Lisboa!", cantam alguns. São 54 bicicletas, outros tantos a dar ao pedal. A grande maioria é gente dos 20 aos 30 anos. Nem todos se conhecem mas o diálogo flui com facilidade porque ali há algo que os une: uma certa consciência ecológica, um gozo tremendo em rasgar o vento montado no mais inofensivo meio de transporte.

A "Massa Crítica" segue em pelotão pela Avenida Fontes Pereira de Melo, passa o Saldanha, segue pela Avenida da República, vira à direita no Campo Pequeno. Os carros, atrás, parecem respeitar a meia centena, ainda que muitos não devam perceber o que se passa. Sempre que podem, ultrapassam pela esquerda, sem reclamar, uma apitadela talvez, mas nada de grave. No passeio, volta e meia, há peões que sorriem e aplaudem.

Curiosamente (ou não) uma parte significativa dos participantes não é grande apologista das ciclovias. Admitem que podem ser úteis mas também as encaram como factor de segregação: "Nós devemos estar integrados dentro do trânsito", refere João Branco. É ele, também, o autor de uma petição na internet que se insurge contra o facto do Orçamento de Estado para 2009 incluir um incentivo fiscal à compra de veículos eléctricos ou movidos a energias renováveis não combustíveis mas não contemplar as bicicletas.

A "Massa Crítica" chega ao final, no miradouro da Graça. Erguem-se as bicicletas ao ar. E como que por intervenção divina, o sino da igreja dobra-se num "doing" - como se o céu agradecesse a ausência de fumo nestes 54 que atravessaram o trânsito."
António Pedro Borges Cruz

Fonte:
http://jn.sapo.pt/paginainicial/pais/concelho.aspx?Distrito=Lisboa&Concelho=Lisboa&Option=Interior&content_id=1184695

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