The Lightning Field: 400 hastes metálicas dispostas numa área de um quilómetro no deserto do Novo México |
"Tinha desejo de espaço, de viagem, levou a produção artística a uma escala inédita na sua relação com a natureza.
Walter De Maria, uma dos nomes mais conhecidos da land art, morreu
com 77 anos, na quinta-feira em Los Angeles, durante o sono,
provavelmente vítima de um enfarte. Considerado pela ensaísta e
historiadora Rosalind Krauss um dos artistas que expandiu o campo da
escultura, inscreveu a sua assinatura na história da produção cultural e
artística da segunda metade do seculo XX, antes de iniciar um período
de reclusão que o afastou das principais instâncias de divulgação e
mediatização da arte.
Desejo de espaço
Também em Nova Iorque reencontra Robert Whitman, com quem gere uma galeria, e testemunha os primeiros desenvolvimento do minimalismo. Entretanto já domina o trabalho com o aço e o alumínio e imagina-se em trabalhar numa escala que as condições de Nova Iorque não permitem. Inspirado por desenhos que vem realizando, pelas memórias visuais da Costa Oeste, pela beat-generation, tem desejo de espaço, de viagem. Vive em Nova Iorque, mas pensa no Pólo Sul, no deserto do Sara, nas montanhas do Canadá. Não quer que o trabalho seja julgado pelo contexto social e espacial que a galeria impõe. Tem o apoio da Dwan Galerry, viaja ao deserto de Nevada, ao Sul do EUA, a Munique, onde apresenta uma instalação de terra que 1977 será rebaptizada de New York Earth Room. Mas a primeira obra que os críticos classificam de earthwork é Mile Long Drawing, de 1968, um “desenho” de longas e paralelas linhas de giz sobre o Deserto do Mojave.
Em 1977 apresenta uma das suas mais famosas peças, The Lightning Field: 400 hastes metálicas dispostas numa área de um quilómetro no deserto do Novo México. Compõem um retângulo, uma escultura geométrica, cuja experiência surge determinada pelos efeitos das condições atmosféricas sobre a luz e as cores da paisagem. Pode ser apreciada de madrugada, ao nascer do sol ou sob uma tempestade (as hastes atraem a eletricidade da relâmpagos). Para um trabalho que só acontece com a presença física do espectador no lugar, torna-se uma das obras mais icónicas de Walter De Maria, acabando reproduzida em várias revistas e citada no romance Blinded by the Light by Morgan Hunt.
Embora preferindo expor em espaços amplos e exteriores, não deixou de marcar presença em galerias e certames internacionais. De um conjunto notável, destacam-se Primary Structures no Jewish Museum, em 1966, momento marcante do minimalismo e, três anos depois, When Attitude Becomes Form, na Kunsthalle de Berna, colectiva que assinalava o advento do pós-minimalismo. Refira-se igualmente as participações nas Documentas de Kassel de 1968 e 1977 e uma retrospectiva no Kunstmuseum de Basileia em 1972. Nos anos 1970, contava já com apoio da Dia Foundation e do coleccionador Heiner Friedrich que se tornaria fundamental para a realização de obras ainda disponíveis à experiência dos espectadores: a já citada The Lightning Field, The Vertical Earth Kilometer em Kassel (1977) ou The Broken Kilometer em Nova Iorque (1979), que estaria na origem The 2000 Sculpture (1992).
Artista que nas últimas décadas se foi tornado invisível (no mundo da arte), deixou-nos obras onde não faltam sentido de humor, conceitos, aventura, espaço. Mas para muitos dos seus pares mais jovens, e até para curadores de renome, tornou-se personalidade relativamente obscura. Há dois anos, Richard Aldrich, do Dia Foundation, lamentava a ausência de monografias sobre o artista e reivindicava a descoberta de trabalhos que lançavam uma nova luz sobre a sua produção. Pode ser que nos próximos anos essa investigação ganhe um novo fôlego, agora que Walter De Maria desapareceu".
Durante 50 anos, o seu
trajecto espelhou as aspirações, a energia e o inconformismo que ficou
associado aos finais da década 1960 e aos primeiros anos da década
seguinte. Começou por estudar História e Arte em São Francisco,
inclinando-se para a pintura, mas o contacto com as obras do músico La
Monte Young e da coreógrafa Simone Forti desviaram-no na direcção da
escultura. Nesse período, desenvolve trabalhos que integram linguagem,
instruções, texto, e que apontam para afinidades com o conceptualismo,
mas expõe pouco. Em 1960 aterra em Nova Iorque e começa a usar pequenas
formas geométricas e materiais como alumínio e aço, expondo em
apartamentos e galerias, participando em happenings, fazendo filmes.
Imerso na cena downtown da cidade, reaviva, por um curto e intenso
período, o seu interesse pela música. Integra como baterista os The
Primitives, a banda que seria a antecâmara dos Velvet Underground,
ensaia com Don Cherry, e grava em 1964 e 1968, respectivamente, Cricket
Music e Ocean Music, discos que misturam sons naturais e provindos de
instrumentos; e que, depois de uma reedição limitada em 2002, continuam
indisponíveis.
Também em Nova Iorque reencontra Robert Whitman, com quem gere uma galeria, e testemunha os primeiros desenvolvimento do minimalismo. Entretanto já domina o trabalho com o aço e o alumínio e imagina-se em trabalhar numa escala que as condições de Nova Iorque não permitem. Inspirado por desenhos que vem realizando, pelas memórias visuais da Costa Oeste, pela beat-generation, tem desejo de espaço, de viagem. Vive em Nova Iorque, mas pensa no Pólo Sul, no deserto do Sara, nas montanhas do Canadá. Não quer que o trabalho seja julgado pelo contexto social e espacial que a galeria impõe. Tem o apoio da Dwan Galerry, viaja ao deserto de Nevada, ao Sul do EUA, a Munique, onde apresenta uma instalação de terra que 1977 será rebaptizada de New York Earth Room. Mas a primeira obra que os críticos classificam de earthwork é Mile Long Drawing, de 1968, um “desenho” de longas e paralelas linhas de giz sobre o Deserto do Mojave.
Em 1977 apresenta uma das suas mais famosas peças, The Lightning Field: 400 hastes metálicas dispostas numa área de um quilómetro no deserto do Novo México. Compõem um retângulo, uma escultura geométrica, cuja experiência surge determinada pelos efeitos das condições atmosféricas sobre a luz e as cores da paisagem. Pode ser apreciada de madrugada, ao nascer do sol ou sob uma tempestade (as hastes atraem a eletricidade da relâmpagos). Para um trabalho que só acontece com a presença física do espectador no lugar, torna-se uma das obras mais icónicas de Walter De Maria, acabando reproduzida em várias revistas e citada no romance Blinded by the Light by Morgan Hunt.
Embora preferindo expor em espaços amplos e exteriores, não deixou de marcar presença em galerias e certames internacionais. De um conjunto notável, destacam-se Primary Structures no Jewish Museum, em 1966, momento marcante do minimalismo e, três anos depois, When Attitude Becomes Form, na Kunsthalle de Berna, colectiva que assinalava o advento do pós-minimalismo. Refira-se igualmente as participações nas Documentas de Kassel de 1968 e 1977 e uma retrospectiva no Kunstmuseum de Basileia em 1972. Nos anos 1970, contava já com apoio da Dia Foundation e do coleccionador Heiner Friedrich que se tornaria fundamental para a realização de obras ainda disponíveis à experiência dos espectadores: a já citada The Lightning Field, The Vertical Earth Kilometer em Kassel (1977) ou The Broken Kilometer em Nova Iorque (1979), que estaria na origem The 2000 Sculpture (1992).
Artista que nas últimas décadas se foi tornado invisível (no mundo da arte), deixou-nos obras onde não faltam sentido de humor, conceitos, aventura, espaço. Mas para muitos dos seus pares mais jovens, e até para curadores de renome, tornou-se personalidade relativamente obscura. Há dois anos, Richard Aldrich, do Dia Foundation, lamentava a ausência de monografias sobre o artista e reivindicava a descoberta de trabalhos que lançavam uma nova luz sobre a sua produção. Pode ser que nos próximos anos essa investigação ganhe um novo fôlego, agora que Walter De Maria desapareceu".