Agricultores de palmo e meio cultivam hortícolas na escola

    in Jornal Sol, 16.04.2011, por Joana Andrade

"É o último dia de aulas e as crianças estão num alvoroço. Pela chegada das férias e pela refeição que irão comer ? as alfaces que plantaram, que viram crescer e que agora vão apanhar para o almoço.
Odete tem apenas dez anos e já é uma jardineira experiente. Os seus olhos brilham quando fala da horta da sua escola, na Galiza, em Cascais. Dedica-se àquele espaço com tanto empenho que quase pensa nele como seu.
Entusiasmar os alunos do ensino básico com a plantação de hortas pedagógicas e fazer com que respeitem mais a natureza são objectivos de um projecto desenvolvido pela Empresa Municipal de Ambiente de Cascais (EMAC). A missão foi cumprida com esta turma de pequenos agricultores, que chegam a proteger a sua horta das bolas de futebol lançadas pelos colegas e das ervas daninhas que teimam em invadir o terreno. António, de oito anos, é quem mais gosta de as arrancar.
Para João, de sete, o melhor da horta é colher o que plantaram para depois comer, como vai acontecer ao almoço. «O sabor é diferente dos produtos que se compram no supermercado», diz. «Não sabem a plástico, são mais doces», acrescenta Odete, que vai ter «saudades» dos seus legumes durante as férias.
Mafalda Soares, professora na escola EB 1 N.º 1 da Galiza que o SOL visitou, garante que esta é uma actividade importante para aprender a respeitar a natureza e o que ela dá. «Os alunos não conheciam metade dos legumes e agora até já plantam fisális».
Favas, tomate, alho-francês, batatas, brócolos ou couve-flor são outros dos alimentos que as crianças têm na sua horta, que também conta com um espaço para ervas aromáticas.
Na escola também aprendem a comer de forma mais saudável através da agricultura biológica. «Quase nenhum gosta de sopa, mas no dia em que se fez caldo verde com a couve da nossa horta todos repetiram», recorda Mafalda Soares.
Odete nunca se esqueceu e fala muitas vezes desse almoço à mãe. Esse é, aliás, outro dos objectivos da iniciativa: sensibilizar os pais para melhores práticas ambientais, como explica o vereador da Câmara de Cascais Nuno Piteira Lopes: «Além da vertente ambiental e social, pensamos também na sustentabilidade económica».
Há dez anos, a reciclagem era um conceito difícil de passar às famílias. Hoje são as crianças que explicam aos pais a importância da separação do lixo e nas salas de aula também já há caixotes amarelos, azuis e verdes.
Mas é a terra que mais chama a atenção de Odete, João e António - já sabem como e quando plantar os diferentes hortícolas e até como fazer compostagem no quintal.
Esta é outra das actividades que a empresa municipal promove junto das 155 escolas do concelho que aderiram ao EMAC Educa, uma Aposta no Futuro , através da entrega de material como um depósito para guardar os resíduos orgânicos e um manual de compostagem.
A preocupação das crianças pelo ambiente é já tão grande que muitas chegam a pedir aos pais para usarem guardanapos de pano em vez dos tradicionais de papel.
Para os adultos que vivem em apartamentos e também gostariam de plantar legumes, Cascais desenvolve, há um ano, um projecto de criação de hortas comunitárias. Mesmo em centros urbanos, cada inscrito tem direito a um talhão."

Fonte e imagem:
http://sol.sapo.pt/inicio/Vida/Interior.aspx?content_id=16945

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