in Jornal Público, 04.10.2012
"Em 2011 foram vendidas mais bicicletas (1 milhão e 750 mil) do que
carros (1 milhão e 748 mil) em Itália, de acordo com o jornal The Telegraph .
Numa Itália deprimida depois da II Guerra
Mundial, Antonio Ricci percorre as ruas de Roma procurando,
desesperadamente, a bicicleta roubada de que necessita para poder
trabalhar.
Mais de 60 anos depois de Vittorio De Sicca ter
realizado esta cena no filme “Ladrões de Bicicletas”, os italianos
voltaram-se novamente para este meio de transporte.
Diz o mesmo
jornal inglês que o aumento do desemprego, a imposição de medidas de
austeridade e o aumento do custo de vida – em Itália, um litro de
combustível custa cerca de 2 euros por litro, o valor mais alto na
Europa - fizeram com que, pela primeira vez desde a II Guerra Mundial,
os italianos comprassem mais bicicletas do que carros.
As famílias estão a comprar bicicletas, a desistir dos segundos carros e a aderir a esquemas de partilha de carros.
“Cada
vez mais pessoas estão a tirar as velhas bicicletas das garagens ou das
caves. São fáceis de usar e custam pouco. Em distâncias de cinco
quilómetros ou menos, são geralmente mais rápidas do que outros meios de
transporte”, disse Pietro Nigreli, da associação industrial
Confindustria, em declarações ao Telegraph.
Mais de 10% de
italianos passaram a utilizar a bicicleta para irem trabalhar ou para
chegarem à escola. Numa população de 60 milhões, este valor representa
6,5 milhões de pessoas.
Em declarações ao jornal La Repubblica ,
Antonio Della Venezia, presidente da Federação Italiana de Amantes de
Bicicletas, disse que as “pessoas que até agora só tinham conduzido
carros, estão a mudar a forma de pensar”.
Num país famoso pela
indústria automóvel e que, em 2009, apresentava a quarta maior taxa de
posse de automóveis no mundo (cerca de 60 carros por cada 100
habitantes), um carro tornou-se um símbolo do milagre económico italiano
dos anos 60 e as vendas de automóveis não pararam de crescer desde
então.
Agora, a compra de carros novos desceu para valores que não eram registados desde os anos de 1970.
“Qualquer
pessoa que trabalhe no sector automóvel na Europa actualmente está a
experimentar vários níveis de descontentamento. O mercado automóvel
europeu está um desastre”, disse Sergio Marchionne, presidente da Fiat.
Grécia também pedala mais
Mas
não são só os italianos que estão a trocar as quatro pelas duas rodas.
Em Agosto, a Reuters noticiou que os gregos também estão a adoptar a
bicicleta como meio de transporte.
Vistas geralmente como sinal
de pobreza ou consideradas arriscadas, as bicicletas estão a tornar-se
numa alternativa para os gregos, a braços com uma grave crise económica e
com elevadas taxas de desemprego.
O número de automóveis
utilizados desceu 40% na Grécia. De acordo com a Reuters, esta situação
está a traduzir-se numa oportunidade para alguns gregos, uma vez que a
venda de bicicletas cresceu mais de 25% e a compra de equipamento de
ciclismo – desde capacetes a joalheiras –, está a aumentar rapidamente.
Estima-se
que pelo menos uma loja de bicicletas tenha aberto todos os meses em
2011, num forte contraste com o encerramento de muitas lojas em Atenas.
“Todos
os bairros têm a sua loja de bicicletas, tal como têm a sua loja de
kebabs”, disse à Reuters Giorgos Vogiatzis, um ex-ciclista da equipa
nacional grega que desenha e constrói bicicletas feitas por medida.
Recentemente, Vogiatzis viu o negócio aumentar. De 40 bicicletas vendidas por ano, passou para 350.
A
nova atracção dos gregos pelas bicicletas levou a que, em Atenas, se
tenha começado a trabalhar num esquema de aluguer semelhante ao que
existe noutras capitais europeias, como Paris.
A falta de
infra-estruturas para o ciclismo na capital grega não impediu os gregos
de pedalarem pela cidade, apesar dos engarrafamentos, das subidas e
descidas em colinas íngremes e das estradas esburacadas".
Fonte:
http://www.publico.pt/Sociedade/italianos-e-gregos-trocam-automoveis-por-bicicletas-1565827