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Peões com acesso facilitado à estação de Santa Apolónia após protesto de moradores

Moradores queriam que a Refer abrisse uma porta no muro que ladeia a estação, mas opção foi outra (Foto: Pedro Martinho)
in Jornal Público, 17.10.2012
Por Marisa Soares

"O acesso pedonal do lado Norte à estação de Santa Apolónia, em Lisboa, vai ser mais fácil a partir de sábado. Depois de vários protestos dos moradores da zona, a Refer vai abrir uma das portas laterais da estação que dão para a Rua dos Caminhos de Ferro. Esta passa a ter sentido único e passeios mais largos.  

A porta a ser aberta, a cerca de 300 metros da entrada principal, vai dar acesso a uma passagem subterrânea que liga ao átrio onde termina a linha dos comboios Alfa Pendular. “É um túnel com iluminação e câmaras de videovigilância”, afirma Basílio Vieira, morador que deu a cara pelo protesto e lançou, em 2010, o movimento Entrada Norte e uma petição pública.
O túnel permite ir até à estação do metro e ao supermercado ali existentes sem ter que contornar o edifício por fora, como acontece actualmente. No entanto, para quem tem mobilidade reduzida a solução não é perfeita. Para aceder à passagem subterrânea é preciso descer escadas, não havendo elevador nem rampa alternativa. “Mesmo assim, pode-se entrar na estação e dar a volta pela plataforma, de forma mais segura do que hoje”, ressalva Basílio Vieira.
Há anos que os moradores se queixam da falta de segurança – nalguns locais, os passeios têm 15 centímetros de largura – e do risco de atropelamentos naquela zona, pela ausência de passadeiras. Com a transformação da Rua dos Caminhos de Ferro numa via de sentido único, na direcção sul-norte (ou seja, de Santa Apolónia para o Parque das Nações), o espaço para os peões será alargado e vai ser colocada uma passadeira em frente à porta da estação.
Os automobilistas que queiram ir no sentido inverso têm como alternativa a Avenida Infante Dom Henrique e o viaduto sobre a linha ferroviária, para inversão de marcha.
As carreiras da Carris também vão ser alteradas. Segundo a transportadora, os percursos dos autocarros 735, 794, 759 (nocturno), 206 e 210 vão ser desviados para a Avenida Infante Dom Henrique a partir da Avenida Mouzinho de Albuquerque, a partir das 22h de sexta-feira.

Solução era "a única possível" 
Apesar de estar “satisfeito” com a solução encontrada pela Câmara de Lisboa e pela Refer, Basílio Vieira sustenta que esta não é a ideal. A proposta dos moradores era a abertura de uma porta no muro lateral da estação, na ligação da Rua da Bica do Sapato com a Rua dos Caminhos de Ferro. A entrada daria acesso ao cais 1 pela Rua da Bica do Sapato, onde os passeios são mais largos, evitando alterações ao trânsito.
Foi em defesa dessa opção que o movimento Entrada Norte organizou, em Maio, a Marcha dos Atropelados, que juntou dezenas de pessoas em protesto. “Aquele muro não tem razão de existir”, defende Basílio Vieira.
“A solução adoptada é a única tecnicamente possível”, contrapõe o vereador da Mobilidade, Fernando Nunes da Silva. Rasgar o muro só será possível, admite, quando a Refer fizer obras na estação para reformular a linha dos comboios Alfa e Intercidades, o que não deverá acontecer nos próximos tempos devido à crise.
A intervenção, que começou no início do mês e termina sexta-feira, custa à câmara cerca de 15 mil euros. Mas é provisória. O movimento Entrada Norte candidatou um projecto ao Orçamento Participativo (OP) da Câmara de Lisboa, que prevê a realização de obras definitivas na zona para melhorar a acessibilidade pedonal e a circulação de tráfego, no valor de 500 mil euros.
Se o projecto passar, os pilaretes agora colocados desaparecem e dão lugar a passeios mais largos, serão criados mais lugares de estacionamento para residentes, e serão feitas obras na rede de drenagem pluvial. Os projectos do OP estão a votação até 31 de Outubro".

Em Londres, quem andar a pé ou de bicicleta terá descontos em lojas e cinemas

"Que tal ser recompensado, financeiramente, por deixar o carro em casa e se locomover pelas ruas da cidade a pé ou de bicicleta? Essa é a mais nova medida londrina para estimular a mobilidade sustentável – e, consequentemente, reduzir os níveis de poluição e congestionamento na capital inglesa.
A bonificação funcionará com a ajuda de um aplicativo para smartphone, criado pela empresa Recyclebank, com o apoio da prefeitura de Londres. Ao ser instalado no celular, o app é capaz de mensurar e pontuar os deslocamentos feitos a pé ou de bicicleta pelo usuário do aparelho, que poderá converter os pontos em prêmios e descontos, nas lojas e cinemas que participam da ação.
A iniciativa foi anunciada nesta semana pelo governo londrino e será testada, por um grupo de pessoas, até o final do ano, para finalmente ser lançada no segundo semestre de 2012 – não por acaso, quando começarão os Jogos Olímpicos de 2012, na cidade.
O Brasil também será sede das Olimpíadas, em 2016. Você acha que a medida adotada pela prefeitura de Londres poderia ser copiada pelo Rio de Janeiro para incentivar a mobilidade sustentável na capital fluminense e reduzir o trânsito caótico que esse tipo de evento esportivo mundial costuma causar nas cidades que o sediam?
Imagem: Missionlessdays/Creative Commons"

Fonte e imagem:

MBA: Road Diet



What’s a road diet? Quite simply, traffic-calming expert Dan Burden told Streetfilms, “A road diet is anytime you take any lane out of a road.”
The first time people hear about a road diet, their initial reaction likely goes something like this: “How can removing lanes improve my neighborhood and not cause traffic backups?” It seems counterintuitive, but taking away lanes can actually help traffic flow smoother while improving safety for everyone.
Road diets are good for pedestrians: They reduce speeding and make vehicle movements more predictable while shortening crossing distances, usually through curb extensions or center median islands. They’re good for cyclists: Many road diets shift space from car lanes to create bike lanes. They’re good for drivers: Less speeding improves safety for motorists and passengers, and providing left-turn pockets allows through traffic to proceed without shifting lanes or waiting behind turning vehicles.
And here’s something to keep in mind during this era of lean budgets: Road diets are a highly-effective infrastructure improvement that can be implemented quickly and at low cost.
Streetfilms would like to thank The Fund for the Environment & Urban Life for making this series possible.

Fonte e vídeo:

A New Design Movement That Can Help Us Beat Obesity

"A primer on Active Design, which creates buildings and environments that fight America’s obesity epidemic.
Today, obesity is poised to overtake tobacco as the leading preventable cause of death in America. More than a third of all Americans are obese and an additional third, overweight. Total U.S. health care costs attributable to obesity are expected reach $860 to $960 billion by 2030.
For years, health advocates have been wagging their fingers, telling us to eat more healthy foods and exercise more. But it’s not working. Obesity is a public health epidemic and it’s a lifestyle that’s hard to change. As a recent New York Times headline stated “Told to Eat Its Vegetables, America Orders Fries.” We need a public health strategy beyond finger wagging, and the solution just might be design.
We need a public health strategy beyond finger wagging

Active Design

Active Design can be seen in the guidelines recently released by New York City, which addresses obesity and obesity-related diseases by encouraging physical activity through the design of our environment.
Active Design is the idea that we can design cities and buildings to encourage people to get more exercise. This is not about encouraging us to go to the gym and working out more, but instead, it's about giving citizens more of a workout through how we interact with our environment on a daily basis. This could include walking instead of driving, taking stairs instead of elevators, and creating parks and other interesting engaging environments to walk through. By attacking obesity through urban design and architecture, governments are beginning to realize that designers might be their best warriors in the battle against obesity and its costs.

A New Strategy

New York City’s Active Design Guidelines may represent the beginning of a strategic shift in the battle to get Americans to exercise. Instead of trying to change individual choices by using a moral appeal about what is good for us (you should walk to work because it is better for you), it’s about changing the environment to reshape the available choices (you’ll want to walk because it is easier, cheaper, faster, or more enjoyable).
This strategy recognizes that the public’s underlying motivations are not about health, but rather, about what is convenient and enjoyable.
walking-Jesslee-Cuizon

Walkability

How do you make an environment that makes it so people are more likely to walk? Picture a place you would like to take a walk in; now picture one you would hate to walk in. It’s pretty easy to see the difference.
The website WalkScore has attempted to quantify walkability by rating any individual address based on how many basic needs and desires can be met within a walkable distance. This excellent tool, which has become popular in the real estate world, does a great job as far as things that can be quantified. It can tell you if there is a grocery store within walking distance, but it can’t tell you what the quality of that walk to the store is like. How busy is the street? Are there sidewalks? Are there trees for shade?
Studies have shown that walkable places have a clear sense of definition or enclosure, are identifiable and memorable, relate to human scale, and have a sense of activity, complexity and visual richness—in short, an environment that feels stimulating and safe.
Environments that are unwalkable are boring, feel vast and scaleless, and present blank unvaried views. Contrast a vast parking lot with a lively café-lined street and it’s clear what makes an environment walkable.

Stimulating the Imagination

Variety and stimulation is especially important for the young digerati who have grown up in a wired world that brings a universe of entertainment and social interaction to them through a screen and a keyboard.
To motivate the under-25 crowd to use their legs—instead of their thumbs—to explore the world, the real world must compete with the digital one in terms of stimulation. Dense, multi-use urban environments with a variety of offerings can provide the stimulating surroundings that encourage walking and real-life social interaction.
Biking-Nicki-Varkevisser
Biking is another front for Active Design. Building bike trails, bike lanes, and bike racks provide the basic infrastructure, and cities across the country are putting renewed effort into such programs. Washington, D.C., and San Francisco have initiated bike sharing programs. In New York, a 2009 zoning amendment requires that all new buildings over a certain size provide bike storage.

Stairs

Architects have long had a love affair with stairs—from the elegant curves of Garnier’s Opera in Paris to the sleek floating glass of Apple stores. But the stairs in most multi-story buildings today are largely functional, emergency-use only environments which take a back seat to elevators for moving people between floors.
Active Design celebrates the stair, encouraging designers to make them visible, accessible, and integrated into a building’s primary circulation and orientation. By making stairs enjoyable, and giving them precedence over elevators or escalators, more people will use them. A 1997 study showed that men who climb 20-34 flights of stairs per week have a 20% lower risk of stroke or death from other cardiovascular causes.
stairs
[The Engineering Five Building at the University of Waterloo, by Perkins+Will]

An Urban Renaissance

A century ago cities were seen as unhealthy environments—dirty and disease-ridden. But today it is the active urban lifestyle that is proving to be the healthiest model.
If we design all our living environments to be more like stimulating, engaging, and diverse cities, then people will live longer, healthier lives. A 2004 study in Atlanta showed that men in more suburban, purely residential neighborhoods were on average 10 pounds heavier than the same demographic who lived in more urban, mixed-use areas.
Active Design might signal a strategic shift.
And New Yorkers have an average life expectancy 1.5 years longer than the rest of the country. At least part of that is attributable to New Yorkers walking more. And they walk because their environment is designed to encourage them to.

Conclusion

For now, Active Design is just a set of guidelines, not a ban on laziness. And although it has begun to influence building codes and zoning laws, Active Design currently has no real legal bite. Many of the smoking bans of the 1990s were enacted because companies and institutions feared that they would be sued over second hand smoke.
Second-hand obesity has yet to be recognized as a problem, and lawsuits against building owners for not making stairways more attractive are unlikely. But the principle of attacking a public health problem through changes to our environment—using design to change our lifestyle choices and using motivations other than doing it for our own good—is a compelling one.
Active Design isn’t a silver bullet to end obesity. But it just might signal a strategic shift that could help turn the obesity tide.

As both an urban designer and an architect, Jack L. Robbins brings a design-oriented approach and international perspective to solving complex urban design problems. Robbins has worked for nearly 20 years with public and private clients around the world, designing large scale master plans, campus plans and development frameworks, as well as residential and commercial high-rise buildings.
[Images from top: Jesslee Cuizon, Nicki Varkevisser, and Lisa Logan Architectural Photography]"

Fonte e imagens:
http://www.fastcodesign.com/1663272/this-is-why-you-re-fat

Plano de Mobilidade Pedonal da Covilhã

A cidade da Covilhã tem um programa exemplar de promoção da mobilidade pedonal, da autoria do Arq. Nuno Teotónio Pereira.
Esta ponte é uma das obras que materializam este plano, em conjunto com o elevador de Stº André, em funcionamento há vários anos, e muitos outros que lhe seguirão.
O paradigma da mobilidade urbana está a mudar e a Covilhã está na vanguarda da promoção da mobilidade pedonal.
O elevador de Stº André é grátis, e pretende-se que os outros também o sejam. Este será um modo de concorrer com o automóvel.
Com a implementação do Plano de Mobilidade Pedonal, os Covilhanenses poderão deixar o carro em casa e percorrer a cidade a pé, com ajuda mecânica nos trechos mais difíceis.
A revista Travel & Leisure considerou a Ponte Pedonal da Carpinteira um dos  oito destinos mundiais de design, tendo publicado no seu sítio o seguinte texto:.
"World's Coolest Design Destinations
Pedestrian Bridge in Covilhã
High-style pedestrian bridges are popping up all over: an epic example now spans the Hudson River at Poughkeepsie, New York, and residents of Copenhagen are looking forward to next year’s completion of the Cirkelbroen. But the most impressive of all may be in Covilhã, Portugal, where Lisbon-based minimalist architect João Luis Carrilho da Graça’s walkway zigzags high above the Carpinteira river valley."

Imagem:
Jornal do Fundão
Fonte:

Os automóveis são os donos das cidades

Francisco Cárdenas e a Agência de Ecologia Urbana de Barcelona têm trabalhado com cidades portuguesas Fernando Veludo/NFACTOS

in Jornal Público, 24-10-2010
Por Mariana Correia Pinto
 
" Nas cidades actuais os automóveis privados já ocupam cerca de 70 por cento do espaço público. Um dia, isto será insustentável, diz o especialista em ecologia urbana, Francisco Cárdenas. Em Espanha, há cidades que já mudaram radicalmente. Portugal está a tentar.

Quando na quinta-feira passada o avião de Francisco Cárdenas se aproximou de terra, à chegada ao Porto, o espanhol não pôde deixar de reparar no aglomerado de casas que se vislumbrava. "Parece que dispararam casas do céu e elas caíram em todas as partes. Olhes para onde olhes, vês casas." O Porto, e toda a sua área metropolitana, é um exemplo daquilo a que o director de programação e planeamento da Agência Ecologia Urbana de Barcelona chama "cidade difusa", o protótipo que está, pouco a pouco, a apoderar-se da Europa: um modelo que tem no carro o elemento central de construção das cidades, que faz do cidadão um mero actor secundário. Em Barcelona já muita coisa mudou. Portugal tem muito caminho pela frente.

O Francisco Cárdenas defende que é urgente recuperar o modelo de organização de cidades do Sul da Europa. Que modelo é este? É um modelo de uma cidade diversa e complexa, onde o espaço público é importante. Uma cidade compacta, o que significa que há densidade suficiente de população e de actividade para que haja contacto e relações entre as pessoas.

Quando é que esse modelo faliu?Pouco a pouco fomos caminhando para outro modelo, o da cidade americana, onde o espaço público pertence aos automóveis privados. Agora, nas cidades, há peões ou condutores: não há cidadãos.

Consegue identificar um culpado?
O problema é que apareceu um artefacto de uma potência incrível, o veículo privado, que pouco a pouco se fez dono das cidades. E os planificadores passaram a desenhar as cidades a pensar neles. Na maioria das cidades médias e grandes, no Sul da Europa, cerca de 70 por cento do espaço público é para o veículo privado. É preciso alterar isto. A dependência do veículo privado é a grande perversão das cidades actuais.

Mas um carro é também um símbolo de liberdade...
É um símbolo de poder, uma questão de status. Ter carro numa cidade com uma boa rede de transportes públicos é uma estupidez. Não estamos contra o carro, mas queremos dar-lhe saída para que funcione. Uma coisa é que o veículo privado vá por toda a parte, outra é pensar simultaneamente nos peões e nas bicicletas.

O que propõe?
Para que um carro não passe numa rua há muito poucas soluções. A única que vejo, na verdade, é impedindo-o, fisicamente. O estacionamento e as portagens já são utilizadas (estas de forma algo injusta). As outras são repensar as vias, de maneira que os veículos não passem por onde querem. É a ideia dos quarteirões - à volta deles é possível circular, dentro não.

Isso não é incompatível com a funcionalidade das cidades?
Não. É uma questão de regular os usos. Mas porque é que as cargas e descargas se podem fazer todo o dia? Não é possível determinar que isso só se faz em determinadas horas? Quando as crianças estão na escola, por exemplo.

As redes de transportes públicos teriam de ser bem mais atractivas.
O transporte público tem de ter qualidade - frequência e cobertura - para ser competitivo. É óbvio que se demorar dez minutos de carro e uma hora de autocarro, nunca irei de autocarro.

Quando fala de cortar os automóveis está a falar de que percentagem de corte?
Na verdade, em algumas cidades, nem é preciso reduzir o número de carros. Mas geralmente falamos de reduções pequenas, à volta dos cinco por cento. Basta alterar os itinerários para que as cidades mudem radicalmente. Em Barcelona, um distrito com 150 mil pessoas, só tocamos em quatro por cento dos carros. O que se muda é que os carros em vez de irem por onde querem, vão por onde nós definimos.

É esse trabalho que a Agência de Ecologia Urbana de Barcelona tem feito...
O nosso trabalho é pôr ordem. Não somos gestores nem construtores, apenas damos apoio às cidades que têm vontade de implementar processos com outros critérios. Quando os arquitectos desenham uma casa pensam muito no conforto - as cores, a luz, a temperatura, o solo -, no espaço público não se pensa nisso.

Quer desenhar cidades como se desenham casas?
Os conceitos de habitabilidade e de conforto têm de estar associados. Agora só se pensa na edificação e urbanizar é muito fácil: construir casas, iluminação, ruas. Fazer cidades é outra coisa. É pensar nos espaços para serem utilizados. Os espaços verdes são muito bonitos, mas se não há nada para fazer lá são pouco mais do que inúteis.

Depois de retirar os carros das cidades, é preciso levar as pessoas lá. A tendência tem sido outra, as cidades dormitório a aumentar...
É um fenómeno muito comum. Expulsava-se a população para os arredores; e depois para os arredores dos arredores... e por aí adiante. Mas chega-se a um momento em que as pessoas que vivem a 45 minutos da cidade não podem mais, em que deixam de estar dispostas a perder duas horas de vida por dia no trânsito. E nesse momento começa a regressar-se ao centro. Em Barcelona isso já foi resolvido e no Porto também será. A população vai regressar - não sei se daqui a cinco ou 15 anos, mas voltará.

O que já se fez em Barcelona?
Fizemos, por exemplo, uma nova rede de autocarros. A que havia já era boa, mas melhorámos ainda mais. Vamos aumentar a frequência de circulação com uma simples alteração topológica dos itinerários. Estamos a trabalhar na implementação de um urbanismo em três planos: altura, superfície e subterrâneo. Os veículos podem - e devem - ocupar mais o subsolo para estacionamento. A verdade é que, neste momento, Barcelona já está a ganhar população de novo. Depois, procuramos optimizar o consumo de energia com medidas tão simples como procurar que as casas recebam sol durante o maior número de horas possível.

Que outras cidades estão abrangidas pelo projecto?
Estamos a desenvolver projectos por toda a Europa. Em Espanha, além de Barcelona e arredores, trabalhamos com Madrid e Corunha, por exemplo. Em Portugal, com vários municípios do eixo atlântico: Porto, Vila Real, Bragança.

Como está Portugal neste capítulo de sustentabilidade
Chama a atenção, quando o avião se aproxima de terra, que olhes para onde olhes, vejas casas. Parece que dispararam casas do céu e elas caíram em todas as partes. É um modelo de cidade difusa, que não cria cidades, cria ajuntamentos urbanos. Em Portugal, este modelo [das cidades difusas] está implementado de uma maneira particularmente escandalosa. Em Espanha também, na verdade.

Mas há projectos no terreno...
As soluções que se têm desenhado são pequenos tampões num depósito gigante a perder água por todo o lado. O que se tem feito é resolver problemas pontuais: se tenho um problema de resíduos, construo uma incineradora, se tenho problemas de circulação, amplio as estradas. Não chega.

De quem é a responsabilidade?
É um pouco de todos. Dos políticos em primeiro lugar, claro, mas é uma decisão que muitas vezes nem no Governo do país está, diz respeito à Europa. A grande dificuldade é que é um projecto a longo prazo e os políticos não têm coragem de assumir esse compromisso. Perderiam eleições.

Que parte cabe ao cidadão?
Cabe a parte de reivindicar a cidade para si, de reivindicar o direito de sair à rua sem medo de ser atropelado, de poder caminhar numa cidade com qualidade de ar, sem ruído excessivo. É preciso consciencializarem-se de que não podem circular por todo o lado e ainda ter tudo.

O que prevê que aconteça, caso este modelo de cidade se mantenha?
Será insustentável. Gostaria de saber o que vai acontecer quando o barril de petróleo estiver outra vez a 200 euros, quando for um bem escasso... e nós continuarmos a depender dele. Em menos de 20 anos os recursos acabam. Agora, vivemos como se os recursos fossem infinitos, fazemos cidades como se a energia fosse infinita, como se a tecnologia resolvesse tudo. E olha-se para o PIB e parece que está tudo bem. Se se vendem mais carros, é possível que ele cresça. A ver se começamos a mudar mentalidades. Não é nada fácil. É que há pessoas que aqui [aponta para a cabeça] a única coisa que têm é um automóvel."

Fonte e imagem:

Conduzir, não conduzir

Conduzir, não conduzir

in Diário de Notícias, 24 de Outubro, 2010

por FERNANDA CÂNCIO


"Há grupos no Facebook, 'chats' na Net, e até estudos sobre quem não guia, nunca guiou, nunca quis guiar. Deficiência social e óbice profissional, a falta de carta pode afinal ser um orgulho. Ou que remédio.
Num mundo em que ter carta e carro é rito de passagem para a idade adulta e símbolo de sucesso, quem escolhe não conduzir pode sentir-se uma aberração. Há quem tenha - ou arranje - resposta para o porquê, e quem nem se interrogue.
Preguiça, medo, trauma, recusa de crescer, aversão a máquinas, psicanalitiquices à escolha. Há estudos sobre isso, inquéritos, teorias. Um escritor britânico residente em Los Angeles, a cidade mais inimiga de peões dos EUA, país em que a carta de condução é bilhete de identidade oficial, escreve no LA Times: "Gastei milhares de dólares em terapia a tentar perceber; o meu psiquiatra fica todo excitado de cada vez que falamos disto. Diz: 'Chegaremos a algum lado quando percebermos de vez por que raio não guias.'" Richard Rayner - o nome do escritor - elenca as possibilidades. "Será medo? Terei assim tanta relutância de assumir o comando da minha vida? Li Pela Estrada Fora, de Kerouac, ok? Acham que não percebo que guiar, acelerar pela noite fora com o vento quente a despentear-nos o cabelo é uma imagem primordial da liberdade à americana, e que Los Angeles é o epicentro geográfico dessa ideia? Terei uma relutância edipiana em competir com o meu já desaparecido pai, um playboy que fazia corridas, dono de uma sucessão de Aston Martins e Lancias e sexys Jaguares, e que, um dia, quando tinha eu sete anos e estava ao lado dele num Minicooper, apontou para o velocímetro - passava dos 150 km/ hora -, tirou as mãos do volante e começou a cantar: 'Não temos bananas, não temos bananas hoje'? Sim, ponham uma cruz em todas as opções acima."
Conduzir, não conduzir: Alain Resnais poderia bem ter filmado uma história assim, depois de Smoking/No Smoking (1993). Aliás, tanto de comum entre dois temas aparentemente tão díspares. Diga-o o produtor de TV Pedro Curto, 48 anos, sócio de Piet Hein na CBV, por acaso um fumador inveterado. "A cidade está formatada para automobilista e não para peões. O maior pesadelo são os carros em cima dos passeios, mas sente-se a cada momento, no tempo de atravessamento dos semáforos, por exemplo, ou nas barreiras que fazem com que andes quilómetros porque não podes atravessar. E é-se tratado como maluco, com uma agressividade incrível, de cada vez que se protesta." Como os não fumadores no tempo em que em todos os lugares se fumava e se arrogava esse direito como absoluto - precisamente. "Ah, pois é, nunca tinha feito essa ligação." A analogia não se fica por aqui: o facto de alguém não fumar foi durante muito tempo visto como uma falta de sofisticação, de modernidade, uma falha social e cultural que suscitava condescendência piedosa ou aberto desprezo. Tal qual o que se passa com quem não guia. Com a agravante de poder ser, profissionalmente, um óbice. "As pessoas olham-te como um alien por não teres carta e carro. Perguntam: como é que és produtor sem carro? O que posso garantir é que nunca deixei de fazer uma coisa por não ter carro." Nem trabalho, nem férias, nem nada. "Quando me apetece ir para algum lado, Meco ou Alentejo, por exemplo, nunca me apetece ir sozinho, portanto... As pessoas têm o pensamento pindérico de que o carro dá estatuto socialmente."
Em alternativa, Pedro anda. Muito. "Quando tinha escritório nas Amoreiras ia todos os dias a pé para casa, que é em Alvalade. Ao andar a pé resolvem-se imensas coisas na cabeça. Penso muito melhor a andar. E gosto de me cruzar com as pessoas - tens muito mais noção do mundo real que se fores metido no carro. Costumo dizer que sou mais urbano que os semáforos, vivo muito a cidade." Quando não dá para ir a pé, o metro e o táxi são as opções. Com predominância para o primeiro: "Estou fascinado com o metro - é fantástico, barato, rápido, vais a ler, só tens vantagens."
A mesma sorte não tem Constança Cunha e Sá, jornalista, 52 anos. Editora de Política da TVI, vê-se, ela que vive no centro de Lisboa, a trabalhar em Queluz de Baixo, num lugar onde só se chega de automóvel. "Nunca tinha sentido falta, sempre me arranjei com os transportes públicos (gosto imenso de comboio e de metro). Agora sinto um bocado porque gasto uma fortuna em táxi. As coisas estão feitas - por exemplo a localização das empresas - presumindo que toda a gente tem carro. O que é, obviamente, um pressuposto errado. Fala-se muito na redução do transporte individual, mas está tudo pensado para quem tem." Uma discriminação também anotada nos espantos coleccionados ao longo da vida. "Sim, os não condutores são vistos como deficientes sociais. Só me lembro de uma reacção positiva. Fui ao Ministério dos Negócios Estrangei-ros falar com um diplomata e ele perguntou onde tinha arrumado o carro. Eu disse que não tinha, e ele: 'Ai que civilizado'."
Precisamente: há estudos por esse mundo fora para tentar perceber porque é que algumas pessoas não guiam... como pista para as melhores formas de desincentivar outras de guiar. A conclusão é de que resulta dar o máximo de informação sobre as desvantagens do automóvel - do que se gasta aos seus perigos, passando pelo stress de ter de encontrar lugar, de proteger o objecto de vandalismos e roubos, etc. O ex-jornalista António Tavares-Teles, 68 anos, atesta a justeza desta perspectiva. "É muito mais barato por exemplo andar de táxi. Quando eu vivia em Cascais - agora vivo em Vilamoura -, ia e vinha de táxi e um amigo disse: 'Porque não compras um carro e não pões um chofer?' E eu respondi: 'É o que tenho'. Se gasto mais? As pessoas quando andam de carro esquecem-se que têm de o pagar, do quanto ele se desvaloriza, da gasolina, do seguro, se bate, a revisão. E, veja, tenho um carro excelente, um Mercedes, com motorista - e faz-me recados, coisa que um carro sozinho não faria." A relação é de tal forma estreita que, garante, é convidado todos os anos para o jantar de Natal da empresa de táxis. "As únicas vezes em que sinto que o carro me faz falta é quando me apetece viajar sozinho e não posso. Sei lá, ir almoçar ao Fialho e não depender de ninguém. O carro tem as suas funções, haverá quem não possa viver sem carro, mas em Portugal isso correspondeu a uma ascensão social - tenho um certo desprezo por aquela pequena burguesia que começou a andar de chavinha." Acresce uma autodiagnosticada aversão a máquinas, que encontra eco em Helena Barros, 58 anos, directora de um colégio privado para crianças dos três aos dez. "Até a minha máquina de lavar só tem um programa para poder funcionar com ela. Nunca me sentei a um volante, nunca tive essa curiosidade. Mas, pensando nos motivos pelos quais recusei tirar a carta aos 20 e tal anos, quando todas as minhas amigas tiraram - haverá alguma razão, eu é que nunca a procurei, achava que era falta de interesse -, pode ser um bocado não querer ter mais uma responsabilidade, o medo de provocar um acidente, magoar, fazer mal aos outros." Ainda assim, confessa que de vez em quando, ao passar numa escola de condução, pensa em tentar. "Não posso dizer que me arrependa, mas acabo por me sentir um bocado dependente. Já pensei que se desse uma coisinha má ao meu marido ficava sem carro. Às vezes olho para os carros e penso, se tirasse a carta que carro guiaria. Gostava do Renault seis e do dois cavalos - uma vez o meu marido disse-me que tinha visto um à venda e ia comprar para eu aprender a guiar. Respondi: nem pensar."
Pode ser que, a partir de uma certa altura, aquilo que aconteceu como acaso se torne, face à estranheza, insistência e até aversão do mundo, uma resolução inabalável, um orgulho idiossincrático feito de hábito, preguiça e ironia. Constança, que em miúda até deu "umas voltinhas, na brincadeira", não se vê a inverter a marcha. "Desagrada-me a ideia das burocracias, das aulas... E não gosto mesmo de andar de carro; quando vou à frente sou daquelas que vai sempre a travar." Ri. E partilha o seu pesadelo cómico: "Tenho um sonho recorrente de que estou a guiar sem carta, a passar pela polícia e tudo - lá vou eu, sem saber bem o que estou a fazer." Pode ser isso, afinal: a consciência aguda do quanto é estranha essa simbiose, de que ninguém sabe muito bem o que faz atrás de um volante."

Fonte e imagem:
http://dn.sapo.pt/gente/interior.aspx?content_id=1692952

Atravessar a Av. de Roma. Blog Menos Um Carro

"Cidades anti-peão: nem os cruzamentos do centro se safam

Finalmente fiz um video sobre um problema que existem em quase todos os cruzamentos das nossas cidades. Um problema invisível a todos, mesmo a quem se preocupa com os peões. Quando um cruzamento é desenhado, ele é pensado de modo a minimizar o tempo de espera dos automobilistas. Só depois se pensa no peão, e inventa-se uns percursos para ele atravessar o cruzamento. Pouco importa se o percurso é longo e tem muitas esperas.
o vídeo tenho um exemplo de um cruzamento muito simples, uma avenida estreita com uma rua secundária de um só sentido, numa zona muito comercial de Lisboa. Em alguns casos, o peão tem que esperar por 3 semáforos diferentes para atravessar apenas uma via. O automóvel nunca espera mais de um semáforo. Vejam o video que diz tudo."

Fonte:
http://menos1carro.blogs.sapo.pt/180715.html

Alliance for Biking & Walking

"Our Mission: bikerwithsonbeforecrossingthestreet
Alliance for Biking & Walking creates, strengthens, and unites state and local bicycle and pedestrian advocacy organizations.


Our Vision:
Every community benefits from the fun, practicality, and efficiency of biking and walking. In 2015, one-third of all trips will be made by bicycling and walking for reasons ranging from personal health and environmental sustainability to economic necessity and moral responsibility. The Alliance has created, strengthened, and empowered effective and sustainable bicycle and pedestrian advocacy organizations in every state, province, and major city in North America. These organizations are highly respected by the public, media, and policy makers. Their efforts in their communities and their united strength at the national level have transformed communities into places where it is easy, safe, desirable, and common for citizens to bike and walk.

Values that guide our work:bikersonbridge
  • the power of the bicycle to transform individuals and communities.
  • the role of bicycling and walking in efficient transportation.
  • the importance of social change at the state and local level.
  • our cost effectiveness and resilience.
  • our professionalism and our careers as the leaders of state and local bicycle and pedestrian advocacy organizations.
  • the uniqueness of our diverse communities and the collective brilliance of our membership.
  • the role of song: “there is no movement without music.”
  • connecting, playing together and reinvigorating ourselves through gatherings.
  • our history and heart embedded in our name."

Fonte:
http://www.peoplepoweredmovement.org/site/index.php/site/about/C185

Parecer da ACA-M para o regime experimental de Segway em espaços públicos

Comentários e sugestões ao Ante-Projecto de decreto regulamentar que estabelece um
regime experimental de circulação «Segway» em espaços públicos.

"Princípios base
O Segway é um equipamento pertencente a uma classe de veículos que tem recentemente
recebido atenção de fabricantes e utentes, em relação à qual só nos últimos anos os diversos
estados europeus têm procurado estabelecer regulamentação própria de forma a resolver uma
situação de indefinição legal, com consequências negativas na gestão dos sistemas de
mobilidade. Esta classe de veículos é conhecida como: Veículo Eléctrico Pessoal ou VEP
(Electrical Personal Vehicle).
A ACA-M concorda portanto com a necessidade de uma regulamentação clara sobre as
possibilidades e limites da circulação deste tipo de veículos nos espaços públicos, preenchendo-se
o actual vazio legal em Portugal, e considera que é imperioso fazê-lo de forma reflectida e
informada, pelo que tem todo o gosto em poder apresentar as suas contribuições.
A ACA-M considera que o ante-projecto agora em análise não deve ser elaborado tendo apenas
em atenção a necessidade de regulamentação do uso do Segway em espaços públicos, mas antes
que deve ser regulamentado o uso dos VEP em geral. No que concerne aos chamados «modos
suaves de locomoção», entre os quais os VEP se incluem, o Estado português não regulamentou
ainda, ou regulou deficientemente, a utilização de diversos dispositivos com muito maior
presença em espaço público urbano e não urbano, como sejam as bicicletas, os triciclos sem
motor (como os usados em várias cidades europeias como táxis não motorizados)1, os patins, os
diversos tipos de skateboard, as trotinetes com motor de combustão, motor eléctrico ou sem
motor, e as cadeiras de rodas motorizadas.
Neste sentido, parece-nos que a presente intenção e regulamentação da utilização dos Segway em
espaço público constitui uma oportunidade para para rever profundamente o Decreto-Lei
163/2006, de forma a limitar eventuais incompatibilidades legislativas, e lançar as bases para
uma alteração profunda do próprio Código da Estrada, de forma a que este reflita os novos
paradigmas de mobilidade rodoviária, no sentido de o transformar num Código Regulamentador
das Relações entre Diferentes Modos de Locomoção (incluindo-se aqui a definição um "Código
da Rua", a exemplo do que acontece noutros países europeus), assente no princípio da hierarquia
invertida da responsabilização civil, para uma mais efectiva protecção dos meios de locomoção
mais frágeis (peão > veículo de duas rodas sem motor > veículo de duas rodas com motor >
veículo de quatro rodas com motor, etc.).
O ante-projecto em análise evoca a necessidade de regulamentação dos Segways para “promover
a crescente sustentabilidade ambiental e a eficiência energética das deslocações em meio urbano”. Neste âmbito, a ACA-M alerta para a falácia envolvida neste tipo de argumentação (conhecida internacionalmente como «greenwash»). Consideramos ser necessário, antes de mais, um maior incentivo à pedonalidade em meio urbano, essa sim, o meio de transporte ambientalmente mais sustentável. Um outro meio de transporte com reconhecidas vantagens e potencialidades, particularmente em meio urbano, é a bicicleta, e os problemas inerentes à regulamentação da sua circulação em espaço público não estão ainda solucionados em Portugal.
Neste sentido, insistimos que se deverá aproveitar esta ocasião para reavaliar uma vez mais todo o Código da Estrada, colocando a pedonalidade como critério central, tomando especial atenção a outros meios de transporte efectivamente alternativos ao automóvel. De uma vez por todas, tem de ficar claro que, ao contrário do que se pensava no século XIX e em boa parte do século XX, o transporte individual não é um sinónimo absoluto de progresso e bem-estar da sociedade. É pois essencial, do ponto de vista ambiental, da qualidade de vida e da segurança dos cidadãos tomar medidas que devolvam o espaço urbano ao peão.
A tendência unânime das políticas europeias e locais na Europa é a redução progressiva das velocidades motorizadas em zonas urbanas - gradualmente começam a surgir cidades por toda a Europa com limites de velocidade de 30 km/h e mesmo 20 km/h, excepto em vias principais, onde é autorizado com sinalética de excepção, os 50 km/h - este é o futuro, que espera vontade política para que se generalize. Neste contexto não faz sentido colocar estes novos meios de transporte a conviver com os peões nos passeios - a tendência deverá ser a oposta, ou seja, reduzir progressivamente as velocidades nas vias locais (80% da rede viária, bem hierarquizada) de modo a que as velocidades praticadas sejam menores ou iguais a 30 km/h, o que possibilitaria um convívio cada vez melhor dos veículos motorizados com este tipo de VEPs e até com ciclistas e peões (notamos aliás que o conceito de «rua partilhada», comum em diversas cidades europeias, não beneficia em Portugal de qualquer regulamentação legal, nem sequer de sinalização específica). O esforço a que se assiste actualmente, e assistirá no futuro próximo, no desenho urbano e na regulamentação legislativa do espaço público europeu, é o inverso da presente proposta de legislação - a tendência actual é reduzir as velocidades na rede viária e de colocar os modos mais lentos e sustentáveis cada vez mais próximos do eixo da rua, funcionando também eles como instrumentos de acalmia de tráfego.
A ACA-M considera que, tendo em conta o panorama actual das condições do espaço público e da rede viária em Portugal, em particular em meio urbano, a utilização destes «dispositivos de auxílio à mobilidade», sejam os Segways, sejam outros VEP, vem levantar inúmeros e sérios problemas à segurança dos utentes mais frágeis - os peões - e até dos próprios utilizadores de VEPs, sobretudo se o local de circulação for o passeio.
Tal como a autorização do uso das bicicletas nos passeios, colocar um equipamento motorizado sobre os passeios é transformar o VEP, de um meio de transporte eventualmente sustentável, num possível predador de um outro meio ainda mais sustentável, mais vulnerável, em declínio de utilização e ao qual todas as políticas nacionais e europeias recomendam especial protecção e encorajamento em meios urbanos nas próximas décadas - o peão.
Notamos ainda que, do ponto de vista da saúde pública, a presente discussão deve reconhecer, como princípio basilar, que andar a pé é uma actividade muito mais saudável do que percorrer os espaços públicos num Segway ou num qualquer outro VEP, pelo que num cenário eventual de adopção generalizada destes veículos não se estaria necessariamente a promover um estilo de vida saudável.
Apesar de actualmente existir ainda uma fraca adesão a este tipo de dispositivos, é provável que este tipo de “quasi-veículos”, e outros a ele semelhantes, venha a proliferar no futuro.2 Em termos de eficiência energética e sustentabilidade ambiental, os VEPs podem ser considerados potencialmente interessantes assumindo-se que, em distâncias curtas, existirá uma transferência de condutores de automóveis para este tipo de aparelhos. Ora, o mais provável é que estes sejam mais sedutores para percursos já feitos a pé do que para percursos feitos de carro, sobretudo se o único local de circulação destes dispositivos, tal como pretende este ante-projecto, for os passeios.
A ACA-M lembra que ao longo dos anos se tornou óbvio que o Segway um dos maiores fracassos tecnológicos da década: nas últimas semanas, nos balanços habituais de final de ano (e de década), diversos especialistas identificaram o Segway como um dos «flops» da década que terminou. Talvez por isso, existam consistentes de pressões do fabricante do Segway junto de departamentos de transporte e de municípios, sobretudo em países do Sul da Europa, no sentido de aprovar e incentivar o seu uso, pelo que a sua cedência a forças de segurança, como acontece em Portugal com a Polícia Municipal de Lisboa, possa ser vista como parte da estratégia comercial da empresa para forçar a criação de uma situação de facto no que respeita ao seu uso em passeio.
Tendo em consideração o conjunto de comentários e alertas coligido abaixo, a ACA-M considera que o Segway, ou para este efeito, qualquer VEP, não pode circular em passeio, a não ser em condições e circunstâncias muito específicas (passeios com mais de 4 metros de largo ou espaços dedicados a este tipo de veículos e desde que utilizados por pessoas com treino específico e sujeitas a fácil responsabilização judicial).
Notamos ainda que os utilizadores destes dispositivos poderão não ver com agrado este anteprojecto, porque os proíbe de utilizar a faixa de rodagem. Tendo em consideração a largura e as condições da maior parte dos passeios em Portugal, os utilizadores de Segways preferirão não usar os passeios. Neste sentido, ao proibi-los de usar a faixa de rodagem, poder-se-á estar a contribuir involuntariamente para um atraso na sua adopção e que se perca os potenciais aspectos positivos deste tipo de dispositivo.

Recomendação:
A ACAM recomenda que para efeitos legislativos, o «Segway» e outros “dispositivos de auxílio à mobilidade” como a generalidade dos VEP, podem e devem ser equiparados a velocípedes com motor3. Este ante-projecto deverá ser obrigatoriamente escrutinado por associações de defesa de crianças, deficientes motores e invisuais.


ANEXOS:
Aspectos técnicos e critérios de utilização passo a passo e respectivas vantagens e desvantagens: O Segway e a generalidade dos VEP têm, à partida, duas vantagens inequívocas sobre os automóveis, numa utilização urbana e para percursos de curta distância: não ocupam tanto espaço nem se deslocam a velocidades perigosamente elevadas.
Sobre o local de circulação: passeio, faixa de rodagem, ciclovia ou ciclo-faixa: O local para circulação destes dispositivos é um problema de difícil resolução, razão pela qual as opções são tão díspares sobre o tratamento do mesmo assunto. Há que ter em atenção que a inserção de qualquer novo tipo de veículos no meio viário é um factor adicional de risco, que deve ser avaliado numa base precaucionária.
É conhecido que várias cidades e estados, em particular do Norte da Europa comunitária, após uma situação de indefinição e decorrido um período experimental inicial, preferiram proibir o uso do passeio pelos Segways.
Os poucos estudos que defendem ser seguro o uso de Segways em passeio a baixas velocidades (como o estudo da Universidade Técnica de Kaiszerslauten, em Saarbruken4) reconhecem que o problema mais óbvio, mas não único, de um tal uso é a impossibilidade de fiscalização dessas mesmas velocidades. O recente documento de suporte à consulta do Departamento de Transporte do governo britânico não considera sequer recomendável ou discutível a possibilidade da sua utilização em passeio público5. No Sul da Europa, a situação tem-se mantido indefinida e o seu uso nos passeios implicitamente permitido, em particular devido à ausência de mecanismos sociais e legais de defesa da pedonalidade.
É importante sublinhar que a utilidade do estabelecimento de regras à circulação deste tipo de veículos depende de uma eficaz fiscalização. Tendo em conta as actuais condições, tais regulamentações dificilmente serão cumpridas e fiscalizadas.
Importa ainda apontar que este ante projecto, conforme se apresenta a análise e comentário, propõe-se abrir um grave precedente e que suscita questões muito sérias: nomeadamente, a permissão de utilização de veículos motorizados sobre os passeios.
Neste contexto, o surgimento deste ante-projecto não constitui uma surpresa: argumentar que é perigoso o uso do Segways ou de outros VEPs nas vias de circulação motorizada e considerar ser mais seguro o seu uso nos passeios é um raciocínio esperado num país com um forte paradigma motorizado entre os decisores, onde desponta uma cândida atracção pela inovação dita "sustentável" (o referido «greenwash»), com fraca consciência holística dos problemas da mobilidade urbana (urbanidade, civilidade, acessibilidade, obesidade, velocidade, etc.), e com fraca ou inexistente defesa cívica da pedonalidade.
Apesar de este tipo de dispositivos de auxílio à mobilidade não ter actualmente uma utilização generalizada, no futuro poderá tornar-se mais sério o problema que já começa a verificar-se com as bicicletas: na faixa de rodagem são perigosas para o ciclista, nos passeios são incómodas para o peão – e potencialmente perigosas para o peão atingido de mobilidade reduzida devido a incapacidade fĩsica (deficiência motora, invisualidade, etc.).
Apesar dos evidentes perigos e incómodos que a circulação de Segways nos passeios potenciará, consideramos aceitável a sua circulação, com velocidade controlada e reduzida, em vias pedonais (públicas ou semi-públicas, como centros comerciais e lazer, aeroportos, etc.) com mais de quatro metros de largo, desde que utilizados por utentes com treino específico homologado e facillmente responsabilizáveis cível, administrativa e criminalmente (agentes de fiscalização policial, seguranças privados, etc.). Em Portugal, se exceptuarmos alguns espaços cobertos (certas zonas de centros comerciais e lazer, aeroportos, etc.), tal aplica-se praticamente apenas a ruas pedonais, e muito poucos passeios. Esta tem sido aliás a prática em
vários municípios espanhois.
Consideramos que a pressão para a circulação de bicicletas no passeio tenderá a aumentar no futuro próximo – aliás, esses sinais começam a ser claros em Portugal, e em Lisboa em particular. A permissão de uso da bicicleta em passeio tende a ser a resposta política mais simples e fácil, mas também a mais auto-desresponsabilizadora, à pressão dos ciclistas e bem intencionados ambientalistas, na medida em que evita afrontar os direitos abusivamente adquiridos pelos automobilistas à velocidade excessiva e à hegemonia no uso do espaço público por veículos automóveis privados. Consideramos nefasto e perverso que a mesma aceitabilidade política venha a ocorrer com a tendência para a utilização abusiva de Segways no passeio.
De realçar que mais de 60% das travessias de peões na cidade de Lisboa continuam a não ter os passeios devidamente rebaixados, e de todos os rebaixamentos de passeios executados, só menos de 1%, cumpre todos os requisitos enunciados nos dois diplomas citados.(DL 123/97 e DL 163/2006). Neste cenário, é difícil conceber que os Segway consigam vencer espelhos de lancil com 10, 12, 15 ou até mesmo 30 cm, sim 30 cm, como se verifica nas rotundas da Matinha (Olivais) ou do Patriarcado (Buraca) ou em alguns casos junto ao Centro Comercial Colombo e Estádio da Luz, em Lisboa. Ora, nestas circunstâncias, colocar Segways nos passeios parece-nos irreal, irresponsável e perigoso.

Apontando directamente para alguns aspectos do ante-projecto, salientamos o seguinte:
Sobre a circulação dos VEP em Ciclovias
No Artigo 5º, ponto 1, alínea d), onde se lê: "(...) caso em que as ciclovias sejam utilizadas por peões (...)", notamos que a expressão enferma de contradição, pois as ciclovias não deveriam servir para peões, tal como uma rodovia também não é para peões, excepto nas condições previstas no Código da Estrada e Regulamento de Sinalização do Trânsito, ou seja, nos locais de atravessamento da mesma. consideramos assim que o conceito de ciclovia usado neste anteprojecto necessita ser revisto.
A utilização da bicicleta é, como se sabe, rara em Portugal e por consequência é muito limitado o seu uso nos passeios urbanos. No entanto, considerando a experiência europeia antiga e recente, e as tendências futuras expectáveis para a mobilidade urbana, é de esperar um aumento do uso da bicicleta nos próximos anos (mesmo em Lisboa). Esta expectativa parece-nos ser também válida para o futuro uso de Segways e outros VEPs.
Caso as ciclovias já construídas venham a ser corrigidas, isto é para o conceito em que a ciclovia é dissociada do passeio, ou seja, constitui um espaço dedicado àquele meio de transporte, nesse caso poderá ser razoável colocar este tipo de dispositivos a partilhar o espaço das bicicletas.
Notamos ainda assim que a importação desta concepção centro-europeia é pouco realista por implicar investimentos que quase nenhum município português está em condições de concretizar, devendo os esforços legislativos e executivos ser antes e sobretudo dirigidos para a diminuição efectiva da velocidade automóvel em meio urbano.
Ainda no que respeita ao Artigo 5º, ponto 1, alínea e), onde se lê: "(...) Nos passeios que disponham de ciclovia (...)", notamos que, "passeios partilhados entre peões e ciclistas ou Pistas Cicláveis, construídas ao nível dos passeios ou só pintadas sobre passeios, são uma invenção do planeamento de tráfego orientado para os carros que foi a tónica das décadas recentes. Andar de bicicleta nos passeios é perigoso em qualquer dos casos (legalizado ou não)."6. Tem-se aliás verificado que, com a introdução das ciclovias no passeio, não discutindo a forma e o espaço que ocupam no mesmo, o peão passou a utilizar a ciclovia pela comodidade que oferece ao andar, sinal da fraquíssima qualidade dos pavimentos portugueses (de que a chamada tradição da «calçada à portuguesa» é um dos vectores). É óbvio que acomodar uma ciclofaixa fora do passeio, implica cedências de espaço rodoviário, mas tal como referimos acima, é essencial a adopção pelos municípios portugueses de políticas concertadas de mobilidade, dando destaque ao uso do transporte público, aos modos suaves e restringindo o uso do transporte particular.
Independentemente do seu uso ou não por VEP, a ACA-M é frontalmente contra a construção de ciclovias sobre os passeios. Para lá das questões óbvias de segurança dos utentes e do atentado que constituem às necessidades qualitativas dos peões - especialmente idosos, crianças e amblíopes. É conhecido que o tipo de acidente mais frequente e grave entre bicicletas e veículos motorizados é nos cruzamentos. Por isso, o ciclista iniciado que assume que está mais seguro sobre o passeio, está a proteger-se no troço recto (onde os acidentes são relativamente raros) mas tem que interagir obrigatoriamente com os veículos motorizados nos cruzamentos. É precisamente nos cruzamentos que a estratégia de circular nos passeios se torna numa ratoeira mortal: não só faz com que deixe de existir contacto visual entre o condutor do veículo motor e o ciclista no troço recto, contacto este que aparece repentinamente no cruzamento, como metade dos ciclistas surgem no cruzamento em contra-mão. Este problema é crucial para que só por si mesmo se abandone a construção de ciclovias bidireccionais sobre os passeios. Esta tem sido a conclusão recorrente em muita literatura especializada sobre o assunto7. Consideramos por isso urgente a proibição de construção de ciclovias sobre os passeios.
Caso a solução seja a de colocar o Segway em ciclofaixa, apesar das múltiplas contrariedades que apontámos, é de lembrar que em tal caso será imperioso mitigar previamente os problemas que a sua implantação implica nos cruzamentos. A solução recomendada é que a ciclofaixa termine algumas dezenas de metros antes do cruzamento, para que exista integração de tráfegos, e os mais vulneráveis possam escolher a via de viragem apropriada e mais segura para efectuar as suas manobras de viragem.
Dito isto, a ciclofaixa será porventura uma das soluções válidas para aumentar o conforto e a segurança dos utilizadores destes dispositivos e de bicicletas, em avenidas principais, mas nunca antes de garantir (por outro tipo de medidas) que os automobilistas cumpram a velocidade contemplada no Código da Estrada para zonas urbanas, o que está muito longe de se verificar em Portugal. Por esta razão, a ACA-M advoga que a forma mais segura de conduzir a bicicleta é tomando a via de transito - isto é, ocupando-a de forma a que não seja possível a ultrapassagem por um automóvel a circular na mesma via, porquanto não é de todo óbvio que a segregação ou semi-segregação do tráfego seja a solução mais segura para os diversos utentes, já que está bem documentado que, na generalidade dos casos e com medidas de acalmia apropriadas, a segregação tende a ser mais perigosa que a não-segregação. Por isso mesmo é que, cada vez mais, se está em vários países da Europa a colocar a segregação da bicicleta no fundo de uma hierarquia de decisão8:
1. Reduzir a quantidade de tráfego
2. Reduzir a velocidade de circulação
3. Tratamento de cruzamentos e gestão de tráfego
4. Redistribuição do espaço dedicado ao automóvel
e, finalmente e se for necessário:
5. Implementação de Faixas Cicláveis ou Pistas Cicláveis

Sobre a Circulação dos VEP sobre os passeios
Consideramos que este problema evidenciado com a interacção de ciclistas com peões é exactamente o mesmo no caso dos Segways e equipamentos semelhantes – a defesa do uso de bicicletas, Segways ou outros PEV no passeio é o reflexo perverso de uma tradição de exacerbada preferência pelo paradigma automóvel ainda presente em Portugal, que tão agressor tem sido dos direitos dos peões à segurança e dignidade.
Chamamos também a atenção para o Artigo 5º. §1. b). Onde se lê: «(...) A circulação deve ser feita no espaço mais próximo á faixa de rodagem (...)», convém referir que tal contraria o disposto no DL 163/2006 e DR 22-A/98, porquanto é próximo da faixa de rodagem que se encontram peças de mobiliário urbano (papeleiras, mupis publicitários, abrigos de paragens de autocarro, pilaretes, guarda-corpos), colunas de iluminação, parquímetros de estacionamento, prumos de sinais de código, de setas direccionais e de sinalética de transportes públicos, semáforos em coluna ou em báculo e caldeiras de árvores, o que tornaria a circulação do Segway num autêntico slalom, e desencorajaria a sua utilização.
Por outro lado, convém referir que ao colocar o Segway ou qualquer outro VEP próximo da faixa de rodagem, coloca-o mais próximo do perigo de queda, sobretudo se ao seu utilizador for necessário desviar-se rápida e/ou instintivamente de um qualquer obstáculo sobre o passeio.
Note-se que a diferença de cota entre o passeio e a faixa de rodagem, pode provocar a queda do utilizador do Segway sobre a faixa de rodagem expondo-o repentinamente ao tráfego automóvel.
Perante estes perigos, o utente do Segway optará por circular mais ao centro do passeio, ou seja, em maior conflito com o peão, levando a que seja este a se desviar do Segway e não o contrário, um pouco a exemplo do comportamento que já se verifica em alguns centros comerciais com os elementos de segurança que se deslocam sobre Segway.
Acresce ainda que, implícita na definição de «(...) espaço mais próximo à faixa de rodagem (...)», se pode considerar o espaço contíguo ao estacionamento automóvel longitudinal, em espinha ou longitudinal que se verifica nos arruamentos das cidades. Neste caso, a circulação dos Segway próximo dos veículos, poderá ocasionar acidentes pela abertura repentina da porta do carro, sem se aperceber da aproximação do Segway.
Ainda a propósito do Artigo 6º do ante-projecto, notamos que existem muitas zonas dentro das cidades onde não há um percurso pedonável condicente com as necessidades diárias de milhares de peões. Caso a circulação dos Segways e outros VEPs fosse limitada aos passeios, não seria fácil, para não dizer impossível, realizar diversos percursos a não ser pela faixa de rodagem.
Caso se queira de facto encorajar o seu uso, os Segways e outros VEPs deverão ser considerados veículos, tal como a bicicleta, e por isso mesmo, deverão ter plenos direitos de circulação na rede viária.

Sobre a Circulação dos VEP na faixa de rodagem
Chamamos particular atenção para o facto de que há muitas zonas ou municípios do país com estradas de âmbito rural, cujas características das estradas não permitem a utilização de segway sem ser no espaço rodoviário porque pura e simplesmente algumas dessas estradas não possuem bermas ou passeios. É por isso de procurar especificar melhor o articulado do art. 4º, ponto 2 do ante-projecto: «Não é permitida a circulação de “dispositivos auxiliares de mobilidade” em vias rodoviárias, salvo em áreas pedonais e/ou vias municipais devidamente sinalizadas, nos termos e condições previstas em regulamento municipal». Em causa está, como noutras situações, a dificuldade de fiscalização, hoje muito notável no caso das trotinetes motorizadas, tricículos motorizados e até micro-carros. Chamamos também a atenção que o actual Código da Estrada não define Zona Pedonal e que não existe sinalização de forma a informar o carácter excepcional
dessa via como parece que querer este ante projecto.
Chamamos também a atenção para o articulado do Artigo 6º , ponto 1, alínea a) do ante-projecto onde se lê que «A circulação deve fazer-se pela berma ou junto ao lancil do passeio». Alertamos para o facto de, internacionalmente, a segurança das ciclo-faixas ter sido colocada muito em dúvida nos últimos anos. Uma das razões é que estas colocam o ciclista junto à berma, a qual é o local de localização das sarjetas, mas também de acumulação de folhas, vidros, água, etc. Mas a razão mais crítica é que coloca os ciclistas no ângulo morto dos carros, principalmente pesados, nos cruzamentos. É por este conjunto de razões que a exigência do Código da Estrada português de que os ciclistas circulem junto ao lancil do passeio, e que este ante-projecto coloca aos Segways, já foi abandonada pela maior parte dos códigos da estrada europeus e é um erro grave a necessitar de correcção urgente. Deverá também ser tido em conta que, qualquer contacto da roda do Segway com o lancil fá-lo-á girar em torno da roda mais próxima do lancil e favorecerá a queda. Além disso, os VEP exigem superfícies regulares e é junto ao lancil que se encontram as maiores deformações do pavimento da faixa de rodagem nas cidades (rodeiras, «pele de crocodilo» desprendimento de blocos, etc.) e onde se encontram situadas as tampas sumidouras de órgãos de drenagem, com as inerentes inclinações do pavimento para encaminhamento das águas pluviais, as quais podem inferir uma alteração da trajectória do Segway em direcção ao lancil ou proporcionar desequilíbrio do utilizador do Segway, promovendo a sua queda.
Em termos de danos físicos em caso de colisão de um veículo motorizado com um Segway, há que precisar bem a necessidade de encarar o acidente de uma forma mais precisa na atribuição de culpas e responsabilidades, um pouco à semelhança daquilo que se verifica no atravessamento de uma localidade onde existam travessias de peões marcadas no pavimento ou sem essas travessias marcadas. Reconhecemos que esta é uma questão difícil mas não muito diferente do que acontece com os peões - são elementos que interagem com o tráfego rodoviário que não têm carta e que não possuem qualquer formação oficial nas regras do código. Por isso, a solução encontrada noutros países da Europa poderá ser a mais acertada: os elementos mais vulneráveis do tráfego têm direito a mecanismos legais que divergem ligeiramente de país para país mas que de forma simplificada implica o seguinte: são cobertos de forma imediata pelo seguro do veículo
motor não implicando com isto que exista culpa criminal do mesmo (strict liability ou loi de Badinter em França) e sendo necessário a reversão do ónus da culpa em tribunais arbitrais. Não devemos esquecer no entanto que o segway é um veículo a motor, e portanto mais «responsabilizável» que um veículo sem motor.

Sobre a questão do uso do capacete e de outros mecanismos de segurança:
Não vemos razões objectivas para considerar que os utilizadores de Segways estarão mais sujeitos a perigo que os condutores de um velocípede (eléctrico ou não). Também onde se lê: «(...) especialmente interessante para aqueles cidadãos com mais dificuldades de deslocação a pé (...)» perguntamos: mesmo que sejam só dificuldades de deslocação a pé, será que os utentes com dificuldades de deslocação a pé, conseguirão ter
equilíbrio para se susterem em pé sobre um elemento móvel? Que pessoas são essas e será que existem as condições de segurança necessárias para circularem em Segways? Como é que se comporta uma pessoa sobre um Segway num passeio muito movimentado onde há sempre encontrões inusitados entre pessoas? Cai? "Apeia-se"?
Sobre o Artigo 3º. §1. b) Onde se lê: «(...) Uso de capacete de protecção, no caso do utilizador ser menor de idade; (...)», perguntamos: se de facto existe risco, que estudos indicam que acima dos 18 anos já não existe risco? E que estudos existem que indicam que o uso do capacete em segways reduz o risco?
ACA-M - Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados
Lisboa, 28 de Janeiro de 2010

Notas
1 http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1328109&seccao=Sul http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1366280
2 Por exemplo, e recentemente: Enicycle, Yike Bike, SBU, U3-X,...
3 Considera-se que velocípede com motor é um velocípede equipado com motor auxiliar eléctrico com potência máxima contínua de 0,25 kW, cuja alimentação é reduzida progressivamente com o aumento da velocidade e interrompida se atingir a velocidade de 25 km/h, ou antes, se o ciclista deixar de pedalar.
4 Ver http://www.segway.com/downloads/pdfs/safetystudies/german_study.pdf
5 «Consultation Document: Whether the law should be changed to permit small one-person Electric Personal Vehicles (EPVs) to use public roads and cycle tracks. (DfT-2010-01)»; http://www.dft.gov.uk/consultations/open/2010-01/consultation.pdf
6 The European Federation for Transport and Environment, no projecto ”Greening Urban Transport”, 2000
7 "Uma Pista Ciclável paralela a uma via é extremamente perigosa. Utilizar a bicicleta neste tipo de via é análogo a utilizar o passeio. Quando este tipo de pista é só num dos lados da via, metade dos ciclistas andam contra o sentido do tráfego motorizado, tornando os cruzamentos mais perigosos." Schimek, Paul, Massachusetts Institute of Technology (MIT - Department of Urban Studies and Planning), The Dilemmas of Bicycle Planning, apresentado no Congresso Internacional da Association of Collegiate Schools of Planning (ACSP) e da Association of European Schools of Planning (AESOP), 1997, Cambridge, USA.
8 Institution of Highways and Transportation, Cyclists' Touring Club, Bicycle Association, Department of Transport, Cycle-friendly Infrastructure: Guidelines for Planning and Design. 1996, Londres, Reino Unido"

Fonte:

Movimento de Cidadãos organizou debate sobre problema do estacionamento em Lisboa

"O Movimento de Cidadãos - O Passeio Livre organizou, esta noite, um debate sobre o problema do estacionamento, propondo a colocação de autocolantes nos vidros dos automóveis transgressores. Neste debate participaram vários candidatos autárquicos de Lisboa."

Pulse na ligação para ouvir a reportagem da TSF:
http://www.tsf.pt/paginainicial/AudioeVideo.aspx?content_id=1377462

Debate - AS CONDIÇÕES DOS PEÕES EM LISBOA


"É já esta 4ª-feira, dia 30 de Setembro, às 18h no Cinema S. Jorge, que se vai discutir com os principais candidatos à Câmara Municipal as condições dos peões em Lisboa.

QUEM DEVE APARECER?
Toda a gente, salvo talvez os acamados. :-) Quem anda a pé, basicamente, quem sai à rua.

Isso inclui quem também anda de carro, de bicicleta, ou de transportes públicos. Inclui os pais com filhos pequenos a transportar em carrinhos, inclui todas as pessoas com mobilidade condicionada (idosos, doentes, deficientes, etc), inclui os viajantes com as suas malas com rodinhas, e inclui os “compradores” com os seus trolleys, e inclui quem se preocupa com eles, os seus familiares, amigos e colegas.

Devem ainda aparecer os comerciantes e os operadores de transportes públicos, pois são dois grupos fortemente afectados pelas condições de acessibilidade pedonal que, a existirem e a serem boas, potenciam fortemente as suas actividades e o seu sucesso comercial e social.

Apareçam, convidem amigos, e ajudem a DIVULGAR!"

Fonte e imagem:
http://passeiolivre.blogspot.com/

Making Streets Safer for Seniors by Elizabeth Press


"Transportation Alternatives' Safe Routes for Seniors campaign started in 2003 to encourage senior citizens to walk more by improving their pedestrian environment. Funded by the New York State Department of Health's Healthy Heart program, this was the first program of its kind to address the needs of elderly pedestrians.

In 2008, the City of New York launched its own Safe Streets for Seniors initiative based on TAs Safe Routes for Seniors. Focusing on 25 areas with high senior pedestrian fatalities, this program is paving new ground. Yet, some including seniors not in these zones are asking, is it enough? Stats released by Transportation Alternatives show that:

* People aged 65 years and older make up 12% of the population, yet they comprised 39% of New York City's pedestrian fatalities between 2002 and 2006.
* The fatality rate of senior pedestrians is 40 times greater than that of child pedestrians in Manhattan.

This video is an overview of what Transportation Alternatives, New York State Department of Health, NYC DOT, community groups, and elected officials are doing to promote safe streets for seniors."

Fonte e video:
http://www.streetfilms.org/page/2/