in Jornal Público
29.05.2009, Carlos Cipriano
"CGTP acusa CP de preconceito político-sindical por não dar resposta aos pedidos de fretamento de comboios para manifestações
"Nas grandes manifestações em Lisboa - e houve várias nos últimos anos com 100 a 200 mil pessoas - a maior parte dos manifestantes que vem de longe viaja em autocarros alugados pelos sindicatos. Arménio Carlos, da CGTP, refere que uma grande manifestação de 200 mil pessoas tem custos de 600 mil euros só no transporte em autocarros, que costumam ser alugados pelas uniões de sindicatos distritais.
Por que não viajam, então, os manifestantes de comboio? "Porque da CP nem sequer nos respondem. Nos últimos dez anos fizemos vários pedidos e, ou davam-nos preços incomportáveis ou, na maior parte das vezes, não diziam nada". Arménio Carlos diz que desde há dois anos que a CGTP deixou, pura e simplesmente, de pedir orçamentos à transportadora pública.
"Quando foi a reunião do Conselho Europeu no Porto, em 2000, realizamos uma manifestação e quisemos alugar um comboio com partida de Lisboa e não nos disponibilizaram carruagens", diz a mesma fonte, que é responsável pela parte da logística durante as manifestações.
Razões para esta atitude, encontra--as "num preconceito político-sindical" e na "falta de uma visão estratégica por parte das várias administrações da empresa". É que, refere Arménio Carlos, "uma coisa é a CP não ter capacidade e outra é nem sequer dar resposta".
O presidente da CP, Cardoso dos Reis, rejeita estas críticas. "É completamente falso. Não há nem nunca houve quaisquer restrições a esse mercado", disse ao PÚBLICO. "Ninguém nos contacta nesse sentido porque acham que não é cómodo alugar transporte ferroviário e preferem acomodar as pessoas em 50 autocarros com horários flexíveis do que reuni-las todas num comboio".
Manuel Grilo, do Sindicato dos Professores, corrobora esta tese. "Por que não usamos o comboio? "Os autocarros são mais flexíveis em termos de recolha nas pequenas localidades. É mais fácil que cada escola alugue o seu próprio autocarro e os professores gostam de vir juntos".
Uma ideia que é contrariada por alguns clientes dos serviços especiais da CP que vêem na possibilidade de se poder circular entre as carruagens uma vantagem do comboio. É o caso da Associação Académica do Porto, que ainda há um ano levou centenas de estudantes ao Algarve num composição que pudesse ser percorrida de ponta a ponta para facilitar o convívio entre os estudantes.
Na manifestação de professores de 8 de Novembro, o SPGL estima em cerca de 800 o número de autocarros alugados, alguns dos quais em Espanha por já não haver em Portugal oferta para aquele pico de procura.
Os custos dessa operação ascenderam a 250 mil euros, segundo o mesmo dirigente. Mas quanto custa ao país centenas de autocarros nas estradas que podiam ser substituídos por meia dúzia de comboios? O simulador ambiental da CP só compara o modo ferroviário com o transporte individual, omitindo, assim, o autocarro. Mas entre Lisboa e o Porto, enquanto um automóvel emite 41kg de dióxido de carbono por passageiro, o Alfa Pendular, com 300 passageiros a bordo, só emite 13kg per capita. Uma diferença suficientemente grande para se perceber que, mesmo transportando o autocarro muito mais gente que um veículo ligeiro, o comboio é um modo de transporte mais "limpo".
Numa manifestação de 100 mil pessoas vindos de todo o país, se 10 por cento viajasse sobre carris, bastariam 10 comboios de mil pessoas para se evitar 200 autocarros na estrada.
O problema é que a CP já não tem frota para responder a um tal pico de procura porque tem vindo a vender dezenas de carruagens para a Argentina. Uma forma de evitar custos de manutenção a material que passa a maior parte do tempo parqueado e de encaixar algum dinheiro nos depauperados cofres da empresa.
O PÚBLICO perguntou à CP quanto custaria fretar uma composição com mil pessoas entre Campanhã e Santa Apolónia, num sábado de Maio, com chegada a Lisboa às 14h30 e regresso à Invicta ao fim da tarde. Um horário adaptado a uma manifestação. E o pedido foi satisfeito, três dias úteis depois, com os seguintes preços: um comboio realizado com automotoras eléctricas de serviço regional custa 11.433 euros (11,43 euros por pessoa em viagem de ida e volta); um comboio com 12 carruagens e um nível de conforto melhorado custa 14.088 euros (14 euros por pessoa)."
Fonte:
http://jornal.publico.clix.pt/
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