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Autor do projecto para o Terreiro do Paço acolheu grande parte das críticas, mas mantém alguns aspectos polémicos


in Jornal Público 25.06.2009, por Inês Boaventura
"O corredor em pedra a ligar o arco da Rua Augusta ao Cais das Colunas desapareceu, os losangos da placa central foram esbatidos, a estátua de D. José passou a assentar num círculo em vez de um losango e o Cais das Colunas não vai ser transformado numa plataforma circular. O estudo prévio para o projecto do arquitecto Bruno Soares para o Terreiro do Paço acolheu, segundo disse hoje o próprio, “grande parte das críticas” que foram feitas por cidadãos, técnicos e órgãos de administração, e tem a “concordância” do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar).

Em conferência de imprensa, o arquitecto admitiu que a versão preliminar do projecto era “criticável” e tinha aspectos que “claramente tinham que ser revistos”, salientando que “obviamente, um projecto não resulta de um somatório de opiniões”, sendo necessário fazer “um balanço e valoração dos vários contributos”.

Já o presidente da sociedade Frente Tejo refutou as críticas que têm sido feitas pela inexistência de um concurso público para escolher o autor do projecto e pela falta de um debate público, afirmando que houve “uma auscultação ampla”, da qual resultaram “contributos muito relevantes e importantes”. “Consideramos estar a cumprir os princípios da participação e da transparência”, concluiu Biencard Cruz.

Quanto ao facto de a versão preliminar ter sido chumbada pelo Igespar, pelo impacto visual, arrumação da placa central e enquadramento da estátua, o presidente da sociedade garantiu, em declarações aos jornalistas à margem da conferência de imprensa, que o projecto revisto tinha tido “parecer favorável sem condicionantes”. Horas mais tarde, a assessora de imprensa da Frente Tejo corrigiu esta informação, afirmando que afinal “o projecto ainda não foi formalmente aprovado pelo Igespar, porque esta versão não foi ainda submetida oficialmente para o efeito”, existindo apenas “acordo de princípios”.

Os losangos
Acolhendo aquela que foi uma das maiores críticas ao desenho inicial, Bruno Soares manteve os losangos no chão da placa central, mas decidiu optar por “uma proximidade de cores e tons muito grande”. Tanto a base como as linhas diagonais que nela vão ser traçadas serão em lioz, mas enquanto a primeira será numa pedra fina e granulada para manter a imagem do antigo terreiro, as linhas serão de pedra lisa.

“Não vamos determinar como se usa a praça através do chão”, garante o arquitecto, explicando que insistiu nos losangos para “dar a perceber que é uma grande praça, não um espaço estático e fechado”. O também muito contestado corredor em pedra a unir a Rua Augusta ao Cais das Colunas desapareceu e a estátua de D. José deixou de assentar num losango, opção que Bruno Soares admite ter sido “um erro”.

Na nova versão do estudo, a estátua será “bordejada por uma faixa de pedra” e continuará a estar sobreelevada, a uma altura que num dos lados atingirá os 30 centímetros. Também a polémica sobreelevação da placa central do Terreiro do Paço em relação ao Cais das Colunas se vai manter, apesar de os cinco degraus inicialmente previstos serem agora transformados em dois degraus seguidos de um patamar e mais dois degraus, o que na opinião do arquitecto torna a aproximação “mais suave”.

Aqui, a grande diferença é que o Cais das Colunas, que o arquitecto considera ser o elemento “mais importante” da praça e aquele que a “diferencia de qualquer outra praça real”, não será transformado numa plataforma circular. Bruno Soares explica que a insistência nos contestados degraus, que serão ladeados por “duas rampas muito suaves”, “não é para dificultar a circulação, é para as pessoas terem a percepção de que é uma situação diferente”.

As esplanadas
Já os passeios nas laterais, que vão ser alargados e receberão esplanadas, continuarão a ter “um padrão das cartas de marear do século XVI”, num material ainda a definir, mas que se prevê que seja atravessado por linhas vermelhas e pretas. O passeio junto à Avenida Ribeira das Naus que, com a introdução do novo modelo de circulação automóvel, passou a ter duas faixas em calçada de granito, será em calçada à portuguesa.

O que também se mantém, apesar de ter gerado contestação, é o desnível entre o centro da praça e uma das laterais do Terreiro do Paço, onde, segundo Bruno Soares, haverá um lancil com 15 centímetros e dois socalcos com 25 cm cada, para “revelar o acontecimento histórico” que foi o abatimento do torreão poente.

As árvores
Já a possibilidade de plantar árvores na praça, onde estas chegaram a existir nos séculos XIX e XX, foi rejeitada pelo arquitecto, por considerar que iriam “segmentar o espaço” e contribuir para se “perder a sua dimensão”. Além disso, explicou, a vizinha Avenida Ribeira das Naus vai ser arborizada, pelo que não fazia sentido “deturpar a Praça do Comércio nem pô-la a concorrer com outros espaços”.
O autor do estudo para o projecto de requalificação, que se pretende esteja concluída a tempo da comemoração do centenário da implantação da República, em Outubro de 2010, quer que esta passe a ser uma praça utilizada no Verão e no Inverno, de dia e de noite, no quotidiano e em festas e outros acontecimentos. Para tal vão ser desenvolvidos projectos específicos de iluminação e de mobiliário urbano, que contemplará palcos, instalações temporárias, apoios para exposições, mercados e esplanadas.

Bruno Soares diz que a alteração já introduzida pela Câmara na circulação automóvel, que estiveram na origem de uma providência cautelar interposta pelo Automóvel Clube de Portugal, “é fundamental, é essencial para sustentar esta remodelação”. Igualmente importantes, acrescentou, são os projectos de reutilização dos edifícios da praça (e de toda a Baixa) e e recuperação das suas fachadas.

A praça “bateu no fundo”
No sábado, a sociedade Frente Tejo promove, às 15h30, uma “sessão de debate e esclarecimento” do projecto, no átrio do Ministério das Finanças, no Terreiro do Paço. Numa iniciativa que deverá contar com a presença do presidente da Câmara de Lisboa, Bruno Soares irá apresentar as suas propostas, agora revistas, para dar uma nova vida à praça que, afirma, “bateu no fundo”.

Para o arquitecto, o maior desafio foi perceber “como é que actualmente se consegue criar condições para reintegrar este espaço na vida de cidade”, sendo certo que a sua intenção não é transformá-lo “numa sala de estar de Lisboa”, papel que acredita estar reservado ao Rossio. O Terreiro do Paço, diz, deve afirmar-se sim como “a grande centralidade cultural da Área Metropolitana de Lisboa”, “articulada com o grande centro comercial que é a Baixa”.

As obras de requalificação deverão arrancar em Agosto."

Fonte e imagem:
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1388675

Praça do Comércio - Artigos no Jornal Público, 9 de Maio de 2009


É assim que vai ficar a Praça do Comércio depois das obras
por, Ana Henriques
"Sem calçada portuguesa e com a placa central em tons de terra, o novo Terreiro do Paço vai poder ser discutido pelos cidadãos
É uma praça cor de terra, com losangos, a que o arquitecto Bruno Soares desenhou para o renovado Terreiro do Paço. O projecto foi ontem finalmente dado a conhecer, depois de ter sido mantido em segredo mais de um mês, e inclui um substancial alargamento dos passeios e grandes restrições à circulação automóvel. A calçada à portuguesa desaparece do local, enquanto o Cais das Colunas surge transformado numa plataforma circular.
Até ao final do século XIX, o Terreiro do Paço não estava pavimentado: era, como o nome indica, uma praça de terra. Foi essa memória que Bruno Soares quis manter no trabalho que desenvolveu para a Sociedade Frente Tejo. A cor das fachadas dos edifícios mantém-se igual. Depois há um corredor de pedra que marca o caminho entre o arco da Rua Augusta e o rio - e que tem sido até agora, nas apresentações restritas que o arquitecto tem feito do seu projecto, o aspecto mais contestado. Há quem diga que divide desnecessariamente a praça ao meio. "Isto não é nenhuma passadeira esquisita. É um passeio em pedra em direcção ao Cais das Colunas", disse ontem Bruno Soares em defesa da sua dama.
Alargados, os passeios laterais da praça servirão para albergar esplanadas. Ali, o pavimento será de lioz e terá desenhadas umas linhas desencontradas que correspondem às rotas de navegação dos portugueses no século XVI tal como aparecem nas cartas da época. Para os peões há boas notícias: de acordo com os dados fornecidos ontem, a área destinada à circulação automóvel passará dos actuais 40 por cento da praça para 11 por cento.
Se for por diante o novo plano de circulação rodoviária gizado pela Câmara de Lisboa, os veículos particulares apenas poderão circular paralelamente ao rio, ou seja, no troço entre a Av. do Infante D. Henrique e a Av. da Ribeira das Naus, ficando proibidos de aceder ao Terreiro do Paço pelas perpendiculares ao Tejo, nomeadamente pela Rua da Prata. E mesmo aqui com restrições de velocidade. As cinco faixas de rodagem que hoje existem na Ribeira das Naus serão reduzidas a duas. Os transportes públicos serão desviados para a Rua do Arsenal e para a Rua da Alfândega, por forma a não cruzarem a praça. Os únicos veículos que serão autorizados a parar nela serão os eléctricos.
A remodelação do Terreiro do Paço tem de ficar pronta a tempo das comemorações do centenário da República, que se realizam em Outubro do ano que vem. E embora o projecto ontem apresentado seja aquele que, em princípio, irá por diante, ele poderá vir incorporar sugestões ou alterações sugeridas por todos aqueles que quiserem participar neste debate.
Os desenhos serão colocados no site da Sociedade Frente Tejo a partir do próximo dia 12. O presidente desta entidade, o arquitecto Biencard Cruz, comprometeu-se ontem a "promover o envolvimento dos cidadãos" - "porque a praça é de todos, e não apenas dos especialistas" em urbanismo e arquitectura.
Bruno Soares explicou que os 3,5 hectares da Praça do Comércio - um tamanho bem maior do que o de outras praças de referência europeias, como a Plaza Mayor, em Madrid, ou a praça central de Bruxelas - não permitem criar no seu centro, desabrigado e exposto ao Tejo, uma zona de estar. Por isso é que as esplanadas foram remetidas para debaixo das arcadas e respectivos passeios adjacentes.
Orçada em 8,5 milhões - verba que inclui a consolidação do torreão poente -, a reabilitação da praça inclui a alteração da iluminação nocturna."


Que futuro para a praça?
por Paulo Ferrero, Bernardo F. de Carvalho, Carlos F. de Moura, Luís Marques da Silva, Jorge Santos Silva, Nuno Santos Silva e António Sérgio Rosa de Carvalho (Pelo Fórum Cidadania Lx)
"O Terreiro do Paço é uma das praças maiores e mais bonitas da Europa, porta de entrada de Lisboa e centro a partir do qual a cidade ressuscitada se desenvolve. A nossa "Real Praça do Comércio", ponto fulcral de todo um décor de um Projecto Mercantilista e Modernizante nunca conseguido, onde toda uma simbologia é desenvolvida: a geometria, o numeralismo, etc. A inclinação dos bordos em relação à estátua, para que os que se lhe aproximem sejam reduzidos à sua "insignificância" por D. José, o nosso Rei-Sol. A luminosidade que a todos encandeia e que de todos os lados reflecte. Simbolismo materializado pela conjugação da vontade do homem e da domesticação dos materiais. Por tudo isso, o Terreiro do Paço é Monumento Nacional. Mas a relação do lisboeta com o Terreiro do Paço é ambígua, bipolar. Da cor das fachadas (era "amarelo de Nápoles" quando podia ser rosa, de Bragança; foi verde-garrafa, e voltou a amarelo) ao abandono do Arco Triunfal, aos torreões "mais para lá do que para cá"; aos elementos espúrios, ao "tratamento" do Cais das Colunas, à boca de metro em plena arcada, aos pilaretes, quiosques, e aos esventramentos sucessivos do subsolo. Foi parque de estacionamento. Tem sido feira popular e estaminé.
A decisão oculta
Lembrou a alguém, a propósito do Centenário da República, fazer dela o palco de 2010. Contagiado pelo despotismo esclarecido de antanho, decidiu e não auscultou ninguém, muito menos a "plebe". O projecto é facto consumado. Da placa central? Reafectação dos pisos térreos? Correcção dos "embelezamentos"? Limpeza do arco e da estátua? Eternizar a veia de quermesse? Mastros, toldos, "bandeirinhas"? Publicidade a troco de ?? Toque de "contemporaneidade"?
O projecto divulgado em sessão privada da CML emoldura o Terreiro do Paço com piso riscado, invocando a cartografia do século XVI. A placa central é preenchida por uma desconcertante rede de losangos ocre, de areão, a "condizer" com as fachadas dos edifícios, num imenso tartan de gosto duvidoso, debruado a risquinha cinzenta e rematado por um losango verde-garrafa sob o plinto da estátua, em "pandan" com o verdete. Aplana-se a placa central com uma "bancada" de um metro de alto, em degraus, ao longo de toda a frente-rio, para banhos de sol, farturas e passear o cão.
É este o Terreiro do Paço pelo qual tanto temos aguardado? Por que não houve concurso para a selecção do projectista? Quem se arrogou o poder de escolher uma solução que não foi divulgada, muito menos discutida?
Que Terreiro do Paço?
É preciso respeitar o seu simbolismo, história, monumentalidade, magnificência, luminosidade, assimetria, estética, cromatismo e ligação ao rio, que fazem dele um local tão aparentemente minimalista e inóspito quanto, seguramente, belo e único. O que tem o losango que ver com o Barroco? E o areão, mais apropriado a paredões e pistas de atletismo? O argumento da luminosidade excessiva é capcioso e não inviabiliza o lioz, ou as lajes de pedra do mesmo tipo das sob as arcadas. O alargamento dos passeios laterais pode ser em calçada portuguesa, sem recurso à "cartografia". Não é a calçada um ex libris alfacinha, defendida publicamente, e bem, pelo próprio Presidente da CML?
E será que a sombra, ou a falta dela, é um problema sério? Terá sido esta praça construída como praceta? Não é ela um local monumental, aberto ao rio, ao vento e à luz? Mas se for preciso ter sombra, por que não as árvores de alinhamento de há 100 anos? Não são elas um modo natural e não intrusivo de sombreado, impeditivo da publicidade e da ocupação abusiva da praça? Ou uma solução mais criativa ("elevando a fasquia"), com laranjeiras em grandes vasos bordejando as arcadas. E bancos? Com costas e em mármore (Praça do Império)? Sem costas (Rossio)?
Por fim, não colhe a ideia do corredor central em piso diferenciado, perpendicular ao Arco, cruzando a estátua e prosseguindo até aos degraus do remate junto à marginal. Porque o peão não precisa que lhe indiquem por onde circular. Permita-se-lhe o gozo aleatório, sem pressas, buzinas e lixo. A contemplação. O horizonte, a luz e o vento. O registo imponente, solene, estático, contemplativo, livre aos elementos, do projecto original. Há quem gabe o arrojo do novo projecto. Contudo, cremos que arrojo é decidir sobre a praça mais monumental do país às escondidas de todos. Haja debate!"


"Sobreelevação da placa central pode prejudicar vistas dos transeuntes
Vereadora do PSD especializada em urbanismo teme criação de barreira
Quem olha para as imagens ontem divulgadas não se apercebe do pormenor. Só usando a lupa no computador se conseguem ver os degraus entre a parte da placa central da Praça do Comércio mais próxima do rio e a estrada que corre paralela ao Tejo.
Especialista em urbanismo, a vereadora da Câmara de Lisboa Margarida Saavedra, do PSD, teme que a sobreelevação da praça do lado sul seja o principal problema deste projecto. É que essa sobreelevação terá perto de um metro de altura - o que, no seu entender, poderá prejudicar as vistas da praça de todos os que dela se aproximarem vindos do lado do Cais do Sodré, do lado de Santa Apolónia ou mesmo do rio, porque ficarão num plano mais baixo. "Com a criação desta barreira, a comunhão que existe entre a cidade e o rio desfaz-se", avisa a autarca. "Enquanto este aspecto não for devidamente explicado pela Sociedade Frente Tejo, tenho as maiores dúvidas sobre esta intervenção prevista no Terreiro do Paço".
Na apresentação do projecto que fez ontem, o seu autor, o arquitecto Bruno Soares, disse que o Cais das Colunas ficará 75 centímetros mais baixo do que a plataforma central do Terreiro do Paço. "Na zona em que surge sobreelevada a placa central ficará ao nível da cintura do peão", refere a vereadora do PSD, que diz já ter pedido explicações a Bruno Soares. "E quem ali passa de carro também verá as suas vistas comprometidas. Tal como quem chega de cacilheiro ou nos navios de cruzeiro".
Neste momento, a praça não é propriamente plana - apresenta-se abaulada nas laterais -, mas a sua placa central não tem quaisquer desníveis ou degraus. "A sobreelevação cria, sobretudo junto aos torreões do Terreiro do Paço, uma perspectiva totalmente diferente da que existe hoje", repete a vereadora. Sobreelevada, desta vez em relação à placa central, vai ficar também a estátua de D. José: Bruno Soares desenhou três degraus que a fazem destacar-se do chão.
O projecto - incluindo as restrições ao trânsito a ele associadas - deverá ser discutido ainda este mês na Câmara de Lisboa. Mas o parecer da autarquia não é vinculativo, uma vez que se trata de uma obra a cargo da administração central. "Queremos que os peões prevaleçam sobre o automóvel", disse ontem Bruno Soares. "Entre Santa Apolónia e a 24 de Julho vai ter de se andar devagar"."

Fonte:
http://www.publico.clix.pt/
Imagem:
http://www.correiomanha.pt/noticia.aspx?channelid=00000021-0000-0000-0000-000000000021&contentid=28B6BEFB-DB14-4D11-A709-6D55F5B1A5AF