in Jornal Público, 18.05.2011
Por Alexandra Prado Coelho
"Como é que um arquitecto olha para 52 cidades? O que procura nelas? David Adjaye explica o que viu em África
O arquitecto britânico David Adjaye nasceu em 1966 em Dar Es Salaam, na Tanzânia, numa família originária do Gana. Filho de um diplomata, viajou por muitas cidades de África quando era pequeno. Nos últimos dez anos voltou a percorrê-las - ao todo 52 capitais (só não incluiu Mogadíscio, na Somália, cidade demasiado marcada ainda pela guerra e a anarquia) -, fotografando a arquitectura e a estrutura, dos velhos "souks" aos edifícios modernistas, passando pela actual e frenética construção chinesa.
São milhares de fotografias, que podem ser vistas na exposição que inaugura dia 25 no Museu da Cidade, em Lisboa. Numa entrevista telefónica, Adjaye contou ao Ipsílon aonde é que esta busca o conduziu.
O que procurou em cada cidade que visitou em África?
Tento ter o ponto de vista de um visitante e não de alguém com um conhecimento profundo da cidade. Visito a cidade como qualquer outra pessoa, e o que faço geralmente é pedir a um taxista para me levar a todos os bairros, aos sítios públicos. Olho de forma mais específica para a arquitectura civil, a eclesiástica, a governamental, a institucional, e a comercial, que são importantes para ver quais são as agendas económicas do país e como é que se reflectem na arquitectura.
Uso a mesma abordagem para as zonas residenciais, das classes ricas, da classe média (se houver classe média) e tento perceber como vivem os pobres, onde são os bairros da lata.
Como escolhe o que fotografa?
Faço-o da perspectiva do arquitecto. Nunca fotografo nada para o qual não seja atraído enquanto arquitecto. Tento ser objectivo e não fotografar apenas coisas que me atraiam a um nível emocional. Quero perceber as tipologias de cada sítio. Ao princípio, parece-nos que as cidades têm uma mistura enorme de estilos, mas no fundo são assim tantos. Há padrões que se repetem. Por isso, no início fotografo muito, mas a partir de certa altura começo a procurar categorias. Interessam-me muito as tipologias, de forma mas também de estilo: varandas, materiais, texturas.
São 52 cidades muito diferentes, mas haverá uma identidade africana que as ligue?
O que a exposição quer mostrar é que é um disparate pensar em África como um único sítio. Estamos a falar de um continente, com seis zonas geográficas muito diferentes, e são elas que fazem a identidade de África: o deserto, o Sahel, que é fronteira do deserto, o Magrebe, que são as áreas costeiras do Norte, a floresta que é a parte do coração tropical de África, a savana e pradaria, que são as regiões Este e Sul, e as montanhas e os planaltos. São seis identidades, povos e culturas muito diferentes - e paisagens arquitectónicas também.
Existe não apenas arquitectura diferente mas uma organização das cidades diferente?
Bem, julgo que quando olhamos para a arquitectura vernacular vemos diferentes tipos de organização da cidade. Mas se olharmos para a arquitectura da cidade, e estamos a falar de cidades que não têm mais de 50 anos, ela é essencialmente produto de um modernismo tardio. Nos casos em que as cidades são mais antigas, o colonialismo erradicou qualquer noção de uma cidade africana autêntica. Há um fragmento colonial, e depois há aquilo a que poderíamos chamar o fragmento internacional.
Não quero falar de África como o local de uma arquitectura vernacular verdadeira, mas como o lugar de modernidade radical, porque teve de lutar com todas estas questões, a última das quais foi a China, com a sua agenda de construção de infra-estruturas. Quando se vai para o campo, é muito diferente, aí vê-se arquitectura vernacular e a especificidade de pessoas e de tribos.
As cidades são casos específicos.
Sim, existe uma polaridade: a cidade é muito urbana, e o campo é muito rural. E é isso que é bom no continente, não existe nada entre uma coisa e outra, não há ainda subúrbios em África.
Como é que as pessoas lidam com a influência da China hoje?
Para os africanos, nos últimos 100 anos a modernidade não tem sido uma ficção ou discussão teórica, é uma realidade. Há já várias gerações que a modernidade é a forma de se avançar no mundo. Até a pessoa mais tradicional em África tem uma relação muito positiva com a modernização. Ao contrário do que aconteceu nos processos de industrialização da Europa e dos EUA, em África não houve uma migração do campo para a cidade e uma mudança drástica em duas gerações. As cidades africanas continuam a ter uma forte relação com o campo. Ao contrário do que acontece na Europa, há uma sensação de pertença a um sítio, e uma noção muito sofisticada de modernidade, que permite negociar o modernismo, o pós-modernismo e até o hiper-modernismo, este novo tipo de construção promovida pela China, em que as cidades estão a ser feitas muito depressa, com infra-estruturas e torres.
A modernidade que chegou nos anos 80 foi promovida pelas agências internacionais, pelo FMI, de uma forma um pouco dura e é uma coisa com a qual as pessoas não têm uma relação muito afectiva - é vista como uma arquitectura sem paixão, que surgiu apenas por necessidade. Os chineses, na sua versão de globalização, têm muito mais um lado de parceiros, chegam e querem construir infra-estruturas, mas estão também interessados em explorar os recursos em parcerias com o Governo. Estão aqui para construir o país, não para o ocupar.
Mas em termos do resultado é má arquitectura, ou não?
É do mesmo nível da arquitectura que é feita na China. De uma forma geral, falta em África arquitectura de grande qualidade. Mas eu não lhe chamaria boa ou má - é o que surge quando a economia está em ascensão e se começam a construir infra-estruturas rapidamente. Muitos destes edifícios não durarão muito. Se calhar nem lhe chamaria arquitectura. Será melhor chamar-lhe desenvolvimento.
Esse desenvolvimento não ameaça a relação de que falou, com o campo e as raízes rurais?
Não vejo isso. O que está a acontecer neste processo a que chamo hiper-modernização não é uma criação de subúrbios, é mais uma reconstrução da cidade. Essa relação entre o campo e a cidade foi já firmemente estabelecida - admito que daqui a 50 anos esta possa ser uma conversa muito diferente, mas julgo que estamos ainda muito longe disso.
Quando há pouco falei numa identidade da cidade africana, estava a pensar nas muitas referências que faz nos textos da exposição ao espaço público, ao mercados, aos "souks"...
Ah, toda a ideia da vida pública em África é completamente diferente. Mesmo comparando com outros climas quentes da Ásia, da Índia, das Caraíbas. Toda a noção do comércio é muito granular, e funciona como um denominador comum entre as pessoas. O comércio acontece não num determinado bairro, mas cruzando fronteiras. Talvez isto tenha a ver com o facto de África ainda não ter desenvolvido uma classe média forte, porque é geralmente a classe média que se retira mais para os subúrbios ou para o interior da célula familiar. O que acontece hoje é que se vêem as pessoas a fazerem tudo na cidade a todo o momento. É fascinante.
E é um factor muito importante para um arquitecto que queira construir em África?
É muito fácil construir em África e ignorar as nuances. A grande questão neste momento não são os grandes temas mas as nuances, que têm um enorme significado para as identidades e a vida que ali se vive. Se se constrói em África e não se é sensível a estas coisas julgo que se perde muito, fica-se reduzido a ideias muito genéricas que são facilmente transformadas. O que acontece em África é que se se tem uma ideia mas não se compreende a sensibilidade do local, a arquitectura será recusada e reutilizada para o que deveria ser em primeiro lugar naquele contexto cultural. Não será usada como o arquitecto planeou. É isso que leva muitos arquitectos ocidentais a dizer 'não compreenderam o meu edifício', quando o que aconteceu foi que eles não compreenderam o contexto.
Os africanos têm uma relação mais descontraída com a arquitectura?
Têm uma relação menos rígida, não tão formal. Tem muito a ver com o clima. Os climas do Norte precisam de alguma formalidade, uma qualidade da forma, enquanto em África há uma relação muito mais horizontal, no sentido em que se tem de jogar com o horizonte, quebrando as fronteiras entre o interior e o exterior. Fazer edifícios como objectos cria esta espécie de troféus, ou formas, que exigem uma sensibilidade diferente que não é a africana.
Diz que não há classe média em África - as construções para habitação são para os muito ricos ou para os muitos pobres.
É o maior desafio para o continente.
Os chineses não estão a construir para a classe média?
Penso que a relação dos chineses com África não tem nada a ver com esse tipo de desenvolvimento, tem mais a ver com infra-estruturas, as estradas, os centros de conferências, os edifícios governamentais. Começa é a haver projectos de construtores africanos que estão a fazer dinheiro e procuram parceiros chineses porque são parcerias mais vantajosas do que com arquitectos europeus ou americanos.
Há espaço para os europeus?
Se olharmos para o PIB de África, esta é hoje uma das zonas com maior crescimento do mundo. Estamos num momento de passagem de uma necessidade de construção de infra-estruturas para a necessidade de arquitectura, de expressão cívica. E acho que os europeus têm alguma vantagem aí - aliás é por isso que os chineses já empregam vários arquitectos europeus.
Deixando agora de lado a questão de África, em que ponto está o seu projecto em Lisboa [a sede do centro cultural África.cont, entre as Janelas Verdes e a 24 de Julho]?
Ainda estamos à espera de conseguir os financiamentos necessários. Julgo que Portugal não está neste momento numa boa situação, mas [os responsáveis da Câmara Municipal de Lisboa] têm sido muito encorajadores - é um projecto para avançar, mas que de momento está em pausa.
A abordagem de Lisboa foi semelhante à que usou nas cidades africanas?
Tenho sempre o mesmo tipo de abordagem, que é a de tentar estar muito imerso e captar as coisas que não são evidentes. Vivi em Portugal [no início dos anos 90 trabalhou com Eduardo Souto de Moura, no Porto] e já conhecia bem Lisboa. Interessava-me essa parte antiga de Lisboa, o grão dessa zona e como ele é importante para a identidade da cidade, e queria fazer um edifício que reforçasse essas qualidades. Daí o projecto ser como um conjunto de fragmentos que compõem um espaço público e não uma grande forma única e unificadora."
Informação sobre a exposição:
http://lisboa-livre.blogspot.com/2011/05/24-de-maio-31-de-julho-2011-exposicao.html
Fonte e imagem:
http://ipsilon.publico.pt/artes/texto.aspx?id=285189
O arquitecto britânico David Adjaye nasceu em 1966 em Dar Es Salaam, na Tanzânia, numa família originária do Gana. Filho de um diplomata, viajou por muitas cidades de África quando era pequeno. Nos últimos dez anos voltou a percorrê-las - ao todo 52 capitais (só não incluiu Mogadíscio, na Somália, cidade demasiado marcada ainda pela guerra e a anarquia) -, fotografando a arquitectura e a estrutura, dos velhos "souks" aos edifícios modernistas, passando pela actual e frenética construção chinesa.
São milhares de fotografias, que podem ser vistas na exposição que inaugura dia 25 no Museu da Cidade, em Lisboa. Numa entrevista telefónica, Adjaye contou ao Ipsílon aonde é que esta busca o conduziu.
O que procurou em cada cidade que visitou em África?
Tento ter o ponto de vista de um visitante e não de alguém com um conhecimento profundo da cidade. Visito a cidade como qualquer outra pessoa, e o que faço geralmente é pedir a um taxista para me levar a todos os bairros, aos sítios públicos. Olho de forma mais específica para a arquitectura civil, a eclesiástica, a governamental, a institucional, e a comercial, que são importantes para ver quais são as agendas económicas do país e como é que se reflectem na arquitectura.
Uso a mesma abordagem para as zonas residenciais, das classes ricas, da classe média (se houver classe média) e tento perceber como vivem os pobres, onde são os bairros da lata.
Como escolhe o que fotografa?
Faço-o da perspectiva do arquitecto. Nunca fotografo nada para o qual não seja atraído enquanto arquitecto. Tento ser objectivo e não fotografar apenas coisas que me atraiam a um nível emocional. Quero perceber as tipologias de cada sítio. Ao princípio, parece-nos que as cidades têm uma mistura enorme de estilos, mas no fundo são assim tantos. Há padrões que se repetem. Por isso, no início fotografo muito, mas a partir de certa altura começo a procurar categorias. Interessam-me muito as tipologias, de forma mas também de estilo: varandas, materiais, texturas.
São 52 cidades muito diferentes, mas haverá uma identidade africana que as ligue?
O que a exposição quer mostrar é que é um disparate pensar em África como um único sítio. Estamos a falar de um continente, com seis zonas geográficas muito diferentes, e são elas que fazem a identidade de África: o deserto, o Sahel, que é fronteira do deserto, o Magrebe, que são as áreas costeiras do Norte, a floresta que é a parte do coração tropical de África, a savana e pradaria, que são as regiões Este e Sul, e as montanhas e os planaltos. São seis identidades, povos e culturas muito diferentes - e paisagens arquitectónicas também.
Existe não apenas arquitectura diferente mas uma organização das cidades diferente?
Bem, julgo que quando olhamos para a arquitectura vernacular vemos diferentes tipos de organização da cidade. Mas se olharmos para a arquitectura da cidade, e estamos a falar de cidades que não têm mais de 50 anos, ela é essencialmente produto de um modernismo tardio. Nos casos em que as cidades são mais antigas, o colonialismo erradicou qualquer noção de uma cidade africana autêntica. Há um fragmento colonial, e depois há aquilo a que poderíamos chamar o fragmento internacional.
Não quero falar de África como o local de uma arquitectura vernacular verdadeira, mas como o lugar de modernidade radical, porque teve de lutar com todas estas questões, a última das quais foi a China, com a sua agenda de construção de infra-estruturas. Quando se vai para o campo, é muito diferente, aí vê-se arquitectura vernacular e a especificidade de pessoas e de tribos.
As cidades são casos específicos.
Sim, existe uma polaridade: a cidade é muito urbana, e o campo é muito rural. E é isso que é bom no continente, não existe nada entre uma coisa e outra, não há ainda subúrbios em África.
Como é que as pessoas lidam com a influência da China hoje?
Para os africanos, nos últimos 100 anos a modernidade não tem sido uma ficção ou discussão teórica, é uma realidade. Há já várias gerações que a modernidade é a forma de se avançar no mundo. Até a pessoa mais tradicional em África tem uma relação muito positiva com a modernização. Ao contrário do que aconteceu nos processos de industrialização da Europa e dos EUA, em África não houve uma migração do campo para a cidade e uma mudança drástica em duas gerações. As cidades africanas continuam a ter uma forte relação com o campo. Ao contrário do que acontece na Europa, há uma sensação de pertença a um sítio, e uma noção muito sofisticada de modernidade, que permite negociar o modernismo, o pós-modernismo e até o hiper-modernismo, este novo tipo de construção promovida pela China, em que as cidades estão a ser feitas muito depressa, com infra-estruturas e torres.
A modernidade que chegou nos anos 80 foi promovida pelas agências internacionais, pelo FMI, de uma forma um pouco dura e é uma coisa com a qual as pessoas não têm uma relação muito afectiva - é vista como uma arquitectura sem paixão, que surgiu apenas por necessidade. Os chineses, na sua versão de globalização, têm muito mais um lado de parceiros, chegam e querem construir infra-estruturas, mas estão também interessados em explorar os recursos em parcerias com o Governo. Estão aqui para construir o país, não para o ocupar.
Mas em termos do resultado é má arquitectura, ou não?
É do mesmo nível da arquitectura que é feita na China. De uma forma geral, falta em África arquitectura de grande qualidade. Mas eu não lhe chamaria boa ou má - é o que surge quando a economia está em ascensão e se começam a construir infra-estruturas rapidamente. Muitos destes edifícios não durarão muito. Se calhar nem lhe chamaria arquitectura. Será melhor chamar-lhe desenvolvimento.
Esse desenvolvimento não ameaça a relação de que falou, com o campo e as raízes rurais?
Não vejo isso. O que está a acontecer neste processo a que chamo hiper-modernização não é uma criação de subúrbios, é mais uma reconstrução da cidade. Essa relação entre o campo e a cidade foi já firmemente estabelecida - admito que daqui a 50 anos esta possa ser uma conversa muito diferente, mas julgo que estamos ainda muito longe disso.
Quando há pouco falei numa identidade da cidade africana, estava a pensar nas muitas referências que faz nos textos da exposição ao espaço público, ao mercados, aos "souks"...
Ah, toda a ideia da vida pública em África é completamente diferente. Mesmo comparando com outros climas quentes da Ásia, da Índia, das Caraíbas. Toda a noção do comércio é muito granular, e funciona como um denominador comum entre as pessoas. O comércio acontece não num determinado bairro, mas cruzando fronteiras. Talvez isto tenha a ver com o facto de África ainda não ter desenvolvido uma classe média forte, porque é geralmente a classe média que se retira mais para os subúrbios ou para o interior da célula familiar. O que acontece hoje é que se vêem as pessoas a fazerem tudo na cidade a todo o momento. É fascinante.
E é um factor muito importante para um arquitecto que queira construir em África?
É muito fácil construir em África e ignorar as nuances. A grande questão neste momento não são os grandes temas mas as nuances, que têm um enorme significado para as identidades e a vida que ali se vive. Se se constrói em África e não se é sensível a estas coisas julgo que se perde muito, fica-se reduzido a ideias muito genéricas que são facilmente transformadas. O que acontece em África é que se se tem uma ideia mas não se compreende a sensibilidade do local, a arquitectura será recusada e reutilizada para o que deveria ser em primeiro lugar naquele contexto cultural. Não será usada como o arquitecto planeou. É isso que leva muitos arquitectos ocidentais a dizer 'não compreenderam o meu edifício', quando o que aconteceu foi que eles não compreenderam o contexto.
Os africanos têm uma relação mais descontraída com a arquitectura?
Têm uma relação menos rígida, não tão formal. Tem muito a ver com o clima. Os climas do Norte precisam de alguma formalidade, uma qualidade da forma, enquanto em África há uma relação muito mais horizontal, no sentido em que se tem de jogar com o horizonte, quebrando as fronteiras entre o interior e o exterior. Fazer edifícios como objectos cria esta espécie de troféus, ou formas, que exigem uma sensibilidade diferente que não é a africana.
Diz que não há classe média em África - as construções para habitação são para os muito ricos ou para os muitos pobres.
É o maior desafio para o continente.
Os chineses não estão a construir para a classe média?
Penso que a relação dos chineses com África não tem nada a ver com esse tipo de desenvolvimento, tem mais a ver com infra-estruturas, as estradas, os centros de conferências, os edifícios governamentais. Começa é a haver projectos de construtores africanos que estão a fazer dinheiro e procuram parceiros chineses porque são parcerias mais vantajosas do que com arquitectos europeus ou americanos.
Há espaço para os europeus?
Se olharmos para o PIB de África, esta é hoje uma das zonas com maior crescimento do mundo. Estamos num momento de passagem de uma necessidade de construção de infra-estruturas para a necessidade de arquitectura, de expressão cívica. E acho que os europeus têm alguma vantagem aí - aliás é por isso que os chineses já empregam vários arquitectos europeus.
Deixando agora de lado a questão de África, em que ponto está o seu projecto em Lisboa [a sede do centro cultural África.cont, entre as Janelas Verdes e a 24 de Julho]?
Ainda estamos à espera de conseguir os financiamentos necessários. Julgo que Portugal não está neste momento numa boa situação, mas [os responsáveis da Câmara Municipal de Lisboa] têm sido muito encorajadores - é um projecto para avançar, mas que de momento está em pausa.
A abordagem de Lisboa foi semelhante à que usou nas cidades africanas?
Tenho sempre o mesmo tipo de abordagem, que é a de tentar estar muito imerso e captar as coisas que não são evidentes. Vivi em Portugal [no início dos anos 90 trabalhou com Eduardo Souto de Moura, no Porto] e já conhecia bem Lisboa. Interessava-me essa parte antiga de Lisboa, o grão dessa zona e como ele é importante para a identidade da cidade, e queria fazer um edifício que reforçasse essas qualidades. Daí o projecto ser como um conjunto de fragmentos que compõem um espaço público e não uma grande forma única e unificadora."
Informação sobre a exposição:
http://lisboa-livre.blogspot.com/2011/05/24-de-maio-31-de-julho-2011-exposicao.html
Fonte e imagem:
http://ipsilon.publico.pt/artes/texto.aspx?id=285189